VICKERS VISCOUNT

VICKERS VISCOUNT
VICKERS V700 VISCOUNT (DE SÉRIE)
VICKERS V800 VISCOUNT (DE SÉRIE)
VICKERS 630 VISCOUNT (PROTÓTIPO)
VICKERS 663 VISCOUNT (PROTÓTIPO)
VICKERS 640 VISCOUNT (PROTÓTIPO)
COMITÊ BRABAZON


INTRODUÇÃO


O pioneiro Vickers Viscount é uma antiga aeronave quadrimotor turboélice de médio porte, com capacidade para transportar entre 40 e 80 passageiros em viagens intermunicipais, interestaduais e internacionais, dependendo da versão e da configuração de assentos adotada, projetada, desenvolvida e fabricada em larga escala na Inglaterra, a partir da década de 1950, pela então fabricante britânica Vickers-Armstrongs, na época uma das maiores fabricantes de aeronaves civis e militares do mundo.


Ele teve a honra de ser o primeiro modelo de aeronave com motorização turboélice da história da indústria aeronáutica mundial a entrar em linha de produção seriada e a transportar passageiros e cargas, em 1953, pela então companhia aérea britânica BEA – British European Airways, em um voo inaugural entre a Inglaterra e outro país europeu, com até 48 passageiros a bordo.


Os seus principais concorrentes no mercado mundial de transporte aéreo regional, doméstico e internacional de passageiros e cargas durante as décadas de 1950, 1960 e 1970 foram o americano Convair CV-240 / Convair CV-340, um bimotor radial a pistão; o britânico BAC 1-11 ou BAC One Eleven, um jato bimotor; o britânico Handley Page Dart Herald, um bimotor turboélice; o americano Douglas DC-4, um quadrimotor radial a pistão; o holandês Fokker F-27 Friendship, um bimotor turboélice; o britânico Hawker Siddeley HS 748, um bimotor turboélice; e o japonês Nippon NAMC YS-11 Samurai, um bimotor turboélice; a maioria deles sucesso de vendas nessas décadas, com capacidades variando entre 40 e 120 passageiros, dependendo do modelo.


A BAE SYSTEMS

Logo acima, o logotipo atual da BAE Systems, a empresa sucessora da fabricante britânica de aeronaves militares e civis British Aerospace, que, por sua vez, foi a empresa sucessora das fabricantes também britânicas Hawker Siddeley, de Havilland Aircraft e Vickers Armstrongs. Logo abaixo, o logotipo da então fabricante de aviões Vickers Armstrongs, a fabricante do Vickers Viscount.

A BAE Systems é uma grande, conceituada e respeitada multinacional inglesa do ramo de defesa, segurança eletrônica, aeroespacial e espacial, o resultado da fusão, em 1999, de duas grandes empresas também britânicas, a British Aerospace e a Marconi Electronic, formando assim a terceira maior fabricante do ramo de defesa do planeta, considerando receitas brutas.


Os seus principais mercados estão nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Austrália, na Índia e na Arábia Saudita. É uma das maiores fabricantes de aviões militares, embarcações militares, veículos militares blindados, incluindo tanques de guerra, armamentos e sistemas para uso em embarcações.


Já a Bristish Aerospace foi uma das maiores fabricantes de aeronaves civis e militares do mundo, conhecida anteriormente como British Aircraft Corporation e Hawker Siddeley Group, que, por sua vez, estiveram também entre as maiores fabricantes de aeronaves civis e militares do mundo. Olhando para trás, a British Aerospace foi resultado de agrupamentos (fusões e incorporações) de uma variedade de indústrias aeronáuticas e aeroespaciais europeias, entre elas a de Havilland Aircraft, a Handley Page, a Avro, a Bristol Aeroplane Company, a Vickers-Armstrongs e a Hawker Siddeley.


PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

O icônico Vickers Viscount (pronuncia-se Víkârs Váicónt) é uma antiga aeronave quadrimotor turboélice de médio porte, com pressurização e com construção convencional em alumínio e ligas metálicas, com asas baixas e retas e com trem de pouso triciclo retrátil, com capacidade para transportar entre 40 e 80 passageiros em viagens intermunicipais, interestaduais e internacionais dentro de um mesmo continente, dependendo da versão e da configuração de assentos adotada, projetada, desenvolvida e fabricada em larga escala na Inglaterra, a partir da década de 1950, pela então fabricante britânica Vickers-Armstrongs Limited, na época uma grande fabricante de aeronaves militares e aeronaves comerciais para transporte regional, doméstico e internacional de passageiros e de carga.


A aeronave conseguiu se firmar, nas décadas de 1950, 1960 e 1970, como uma pioneira, segura, confortável e tecnologicamente avançada opção de transporte aéreo regional, doméstico e internacional entre países europeus, países norte-americanos, países sul-americanos e até na Austrália, na China e na Nova Zelândia, onde também fez sucesso, combinando pressurização de cabine e motorização turboélice, um grande e significativo avanço tecnológico para a época, com velocidade de cruzeiro de cerca de 480 km/h, uma ótima velocidade, para os padrões da época, é claro.


Ele se tornou um dos mais emblemáticos clássicos mundiais da aviação comercial, um pioneiro no segmento de transporte regional e doméstico, usado intensivamente na Europa, na América do Norte, incluindo Estados Unidos, na América do Sul, incluindo o Brasil, no continente africano, na Ásia e na Oceania durante as décadas de 1950, 1960 e 1970, em rotas domésticas e regionais para transporte de passageiros e cargas.


Em alguns casos, ele foi usado intensivamente também para transporte internacional de passageiros e cargas dentro de um mesmo continente, como na Europa e na África, por exemplo.


Foram fabricadas mais de 440 unidades do Vickers-Viscount, de 1953 até 1963, em mais de 80 versões e subversões, principalmente para companhias aéreas europeias, americanas, australianas, neozelandesa, brasileira, canadense, sul-africana e até chinesa, dentre elas a BEA – British European Airways (posteriormente British Airways), a US Capital Airlines (posteriormente United Airlines), a Air France, a TCA - Trans Canada Airlines (posteriormente Air Canada), a Air Lingus, da Irlanda; a Northeast Airlines (posteriormente Delta Airlines), a TAA – Trans Australia Airlines, a Continental Airlines (posteriormente United Airlines), a Ansett-ANA Austrália e a SAA – South African Airways, todas fabricadas na Inglaterra, em cerca de 20 anos de fabricação seriada.


Aqui na América do Sul, o Vickers Viscount foi usado por várias companhias, dentre elas a VASP – Viação Aérea São Paulo e a Pluna – Lineas Aéreas Uruguayas, além de ter sido intensivamente usado para transporte governamental pela FAB – Força Aérea Brasileira, inclusive no transporte dos presidentes da República, nas décadas de 1950, 1960, 1970 e 1980.


Nas décadas de 1950 e 1960, ele era considerado um dos mais modernos modelos de aviões comerciais para transporte de passageiros e carga, com a então inovadora motorização turboélice, mais confiável, menos barulhenta e mais suave que as motorizações radiais a pistão da época, e com a introdução da então novo tecnologia de pressurização de fuselagem (cabine de passageiros e cabine de comando), permitindo a operação em altitudes de cerca de 7.800 metros, superior às altitudes padrão da época para aviões radiais a pistão, de cerca de 5.000 metros, embora alguns modelos de aviões com motores radiais já conseguissem voar a 7.000 metros, lembrando que quanto mais alto o avião voa menos sujeito ao mau tempo ele é.


Entre as suas características mais marcantes estiveram a sua boa performance, com alta altitude de voo de cruzeiro, considerando os padrões da época, é claro; a sua ótima flexibilidade operacional para operar em pistas de pouso de comprimento limitado e em aeroportos de altitude elevada; a pressurização da cabine de passageiros e do cockpit, que proporcionava mais conforto biológico aos passageiros e à tripulação; o amplo espaço interno, com espaço suficiente para passageiros com até 1,75 metro de altura, em média densidade;  e o cockpit moderno, para os padrões da época, homologado para voos por instrumentos, inclusive com a então novíssimas tecnologias de radar meterológico e stick shaker, na cabine de comando.


CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

O clássico quadrimotor a pistão Douglas DC-4 / Douglas C-54 foi um grande sucesso de vendas da fabricante americana Douglas Aircraft durante a década de 1940, com mais de 1.200 unidades fabricadas. Ele foi fabricado em larga escala nos Estados Unidos, principalmente para atender as encomendas das Forças Armadas dos Estados Unidos, principalmente antes e durante a Segunda Guerra Mundial, e, depois da guerra, o Governo dos Estados Unidos colocou à venda grande parte de sua frota ou esquadra para companhias aéreas norte-americanas, europeias e latino-americanas.


Assim, o avião, já convertido para uso civil, passou a desempenhar um importante papel no transporte aéreo de passageiros e de carga aérea nas décadas seguintes, com capacidade variando entre 40 e 80 passageiros, dependo do modelo e da configuração de assentos adotada pela companhia aérea, totalizando mais de 1.000 unidades dedicadas ao uso civil em várias partes do mundo.


Entretanto, a partir da década de 1950, as tecnologias de motorização turboélice e motorização a jato, que, na verdade, não são muito diferentes entre si, começavam a se tornar tecnicamente e economicamente viáveis, com os primeiros representantes dessas duas categorias, o Vickers Viscount e o de Havilland Comet, respectivamente, nascendo do outro lado do Oceano Atlântico, na Europa Ocidental, mais precisamente na Inglaterra, o que praticamente obrigou os fabricantes americanos de aviões a reagirem ao avanço dos europeus nesse mercado.


Como consequência disso, muitas novas companhias aéreas, em quase todas as regiões do planeta, principalmente na Europa Ocidental, nos Estados Unidos e na Austrália passaram a usar de forma intensiva o Vickers V700 Viscount e seu irmão maior Vickers V800 Viscount para ligar grandes centros urbanos a localidades médias no interior dos estados ou províncias, de modo que se algum outro fabricante quisesse colocar no mercado, durante a década de 1950, um novo modelo de aeronave para competir com esse clássico quadrimotor turboélice então teria que fazê-lo com o mesmo nível de tecnologia.


Esse foi o início do fim dos motores radiais a pistão, pois, além da tecnologia superior, menos barulhenta, mais econômica, mais suave (com menos vibração) e mais confiável, o desempenho dos motores turboélice foi melhorando, com o passar do tempo, ano após ano, ultrapassando os motores radiais a pistão, tornando os aviões com motores radiais a pistão, como o Douglas DC-4, por exemplo, coisa do passado.


O COMITÊ BRABAZON

A família Vickers Viscount nasceu a partir de um amplo programa governamental de incentivo ao desenvolvimento de novas aeronaves civis e militares britânicas, com apoio financeiro direto do Governo Britânico, chamado Comitê Brabazon, mas por meio de empresas estatais, de capital misto e/ou privadas, durante as décadas de 1940 e 1950, principalmente para atender as necessidades de transporte aéreo civil de passageiros e cargas e as necessidade de aeronaves militares de combate, reconhecimento e logística militar dos países formadores do Reino Unido e da Comunidade Britânica, incluindo Inglaterra, Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte, Austrália, Canadá e Nova Zelândia, dentre outros.  


O projeto do Vickers Viscount foi elaborado durante a década de 1950 pela equipe de projetistas da então fabricante inglesa Vickers-Armstrongs, chefiada pelos projetistas britânicos Reginald Pierson e George Edwards, acompanhados de perto pelo Governo Britânico e pelos investidores da Vickers-Armstrongs, inclusive para assegurar que a introdução das então novíssimas tecnologias de motorização turboélice e pressurização seriam bem sucedidas tecnicamente, com segurança de voo.


A ideia era produzir em série e em larga escala um avião turboélice de bom alcance doméstico e internacional dentro de um mesmo continente, com cabine de passageiros pressurizada e climatizada, com boa velocidade de cruzeiro e um nível de confiabilidade superior para voos internacionais, para os padrões da época, com redundância de sistemas e aviônicos avançados, para os padrões da época.


A grande maioria dos pilotos que operaram os modelos da família Vickers Viscount, durante as décadas de 1950, 1960 e 1970, ressaltavam as características de performance, flexibilidade operacional e confiabilidade da aeronave, com capacidade para pousar e decolar em pistas de pouso de comprimento limitado, transportar passageiros com bons níveis de conforto e modernidade (para os padrões da época, é claro) e a boa capacidade de transportar cargas, introduzidas pela sua ampla porta de carga na lateral da fuselagem.


Comparado com os modelos de aviões comerciais com motores radiais a pistão, os aviões da família Vickers Viscount apresentaram um grande salto tecnológico, incluindo a pressurização de cabine; a manobrabilidade (docilidade de comandos) e a capacidade de decolar em pistas curtas e/ou médias, dependendo do peso, da temperatura ambiente e da altitude do aeródromo; o baixo nível de ruído na cabine de passageiros, de até 60 decibéis em voo de cruzeiro (os aviões a pistão eram muito barulhentos, o ruído era quase insuportável); o baixo nível de vibração na cabine de passageiros; a boa velocidade de cruzeiro de quase 500 km/h e a boa altitude de cruzeiro de quase 8.000 metros; a boa potência para as operações de decolagem e subida, inclusive com capacidade de decolar com um motor inoperante, em caso de falha; a possibilidade de retirar rapidamente os assentos da cabine de passageiros para convertê-lo temporariamente em um avião de transporte de cargas; e o conforto a bordo, inclusive com galley para refeições rápidas e bebidas e o toalete para as necessidades básicas.


A capacidade dos quadrimotores turboélices da família Vickers Viscount variava de acordo com o modelo (foram mais de 80 versões e sub-versões, uma versão ou sub-versão específica para cada operador), dependendo do perfil de cada companhia aérea, com opções de configurações mistas e configurações de classe única. O Vickers V700 Viscount, por exemplo, podia ser configurado com duas classes, para 43 passageiros, em baixa densidade, até chegar às opções de classe única, para 53 passageiros ou 63 passageiros, em média densidade e alta densidade, respectivamente, com toalete e galley, inclusive. A aeronave tinha capacidade para pousar e decolar em pistas de pouso pavimentadas, de grama e/ou de leito natural com comprimento limitado a cerca de 1.500 metros, mesmo lotada de passageiros.


O MOTOR TURBOÉLICE

O motor turboélice, conhecido também como turbopropulsor, é um eficiente motor aeronáutico à reação equipado com uma transmissão que faz girar as hélices de um avião. As aeronaves movidas com essa tecnologia de propulsão também são chamadas de turboélices. Já o motor turboshaft é diretamente derivado do motor turboélice, são quase idênticos, é quase a mesma coisa, e é utilizado para girar o rotor principal e o rotor de cauda dos helicópteros.


O motor turboélice é diferente do motor turbofan, pois nele há turbinas movidas a querosene que transmitem quase toda sua energia cinética para uma engrenagem que move uma hélice externa com algumas pás. Os motores turboélices ainda são populares em aviões de pequeno porte, como o Beechcraft King Air C-90, por exemplo, e aviões de médio porte, como o ATR-72, por exemplo, e são menos velozes que aviões a jato.


Basicamente, de forma resumida e didática, usando uma linguagem simples, para facilitar o entendimento do leitor / internauta, o motor turboélice é, na verdade, um motor a jato com uma hélice acoplada. Então, em vez dos gases queimados gerarem o maior impulso para movimentar o avião são as hélices acopladas ao motor a jato que geram a maior parte da tração.


O motor a pistão com hélice é recomendável para operações de pouso e decolagem em pistas curtas e viagens intermunicipais e interestaduais (rotas domésticas), com velocidade de cruzeiro de até 400 km/h; enquanto o motor turbofan é melhor para viagens interestaduais e internacionais, pois sua eficiência e velocidade são maiores, até 1.000 km/h. Entretanto, imaginou-se que a combinação da turbina com a hélice seria melhor para cumprir missões intermediárias, principalmente em viagens interestaduais, com velocidade de cruzeiro de até 600 km/h, com operações de pouso e decolagem em pistas curtas. 


Após a Segunda Guerra Mundial, surgiram alguns projetos de motores turboélice, dentre eles o Rolls-Royce RB.50 Trent, o Rolls-Royce RB.39 Clyde e o icônico Rolls-Royce RB.53 Dart, utilizado para tracionar um dos modelos de aviões turboélice mais bem sucedidos da história da indústria aeronáutica mundial, o também icônico Vickers Viscount, o primeiro avião turboélice a ser produzido em série no mundo, com mais de 445 unidades fabricadas.


Os pioneiros motores turboélice britânicos da família Rolls-Royce Dart fazem parte da primeira geração de motores turboélice da história da indústria aeronáutica, eles estão na raiz da então inovadora tecnologia do motor a jato usado para impulsionar aviões. Para quem não sabe, a tecnologia dos motores a reação ou motores a jato é semelhante à tecnologia dos motores turboélice.


Na sequência, vieram os motores turboélice americanos, neste caso os motores Allison T-56, para uso militar, e Allison 501, para uso civil, o que tornou possível também a criação, o desenvolvimento e a fabricação seriada de um modelo de avião turboélice essencialmente americano, com fuselagem, asas e motores e sistemas elétrico, hidráulico, eletrônico e mecânico majoritariamente americanos.


A PRESSURIZAÇÃO

A pressurização de cabine é uma tecnologia de compressão ou bombeamento pneumático do ar interno do veículo aeronáutico para uma pressão superior à pressão do ar ambiente, em relação ao ar que cerca a cabine, do lado de fora do veículo. A tecnologia de pressurização de cabine também é utilizada em espaçonaves. O objetivo dessa tecnologia é manter a pressão do ar interno adequada para o conforto biológico do corpo humano, que sente dificuldades respiratórias, perda de consciência e outros problemas de saúde a partir de 5.000 metros de altitude de pressão natural.


Não há consenso sobre a origem exata da tecnologia de pressurização, com os franceses, russos, alemães e americanos tendo desenvolvido tecnologias semelhantes a partir da década de 1930, mas é provável que a primeira tecnologia realmente viável de pressurização de cabine tenha sido desenvolvida pela fabricante americana de aviões civis e militares Lockheed Corporation, em seu modelo de avião bimotor a pistão militar Lockheed XC-35, em 1937, que não chegou a ser fabricado em série, seguido de iniciativas semelhantes de outros fabricantes.


Por outro lado, convencionou-se que o primeiro modelo civil de aeronave comercial fabricado em série em larga escala com a tecnologia comercialmente viável de pressurização foi o quadrimotor a pistão para transporte intercontinental de passageiros Lockheed Constellation, em 1943, portanto nove anos antes da entrada em serviço do de Havilland DH.106 Comet.


Entre as vantagens técnicas apresentadas pelos aviões de propulsão turboélice incluem-se a altitude mais elevada de cruzeiro e a velocidade mais elevada de cruzeiro, em relação aos aviões a pistão. Somando as duas tecnologias, motorização turboélice e pressurização, obtêm-se vantagens adicionais de maior conforto biológico para os passageiros, incluindo a eliminação de eventuais dores de cabeça e enjoos após viagens de mais de uma hora.


A FAMÍLIA VISCOUNT

O turboélice quadrimotor para transporte doméstico e internacional de passageiros Vickers Viscount foi um projeto criado a partir de outro modelo de aeronave, o bimotor radial a pistão britânico Vickers VC-1 Viking, por sua vez produzido durante as décadas de 1940 e 1950 para atender necessidades de transporte civil dos países formadores do Reino Unido e da Comunidade Britânica, com mais de 160 unidades fabricadas.


No entanto, o número de mudanças, melhorias e modernizações aplicadas no projeto do Vickers Viscount, em relação ao seu antecessor Vickers VC-1 Viking, era tão grande que ele foi considerado um modelo de aeronave quase completamente novo, incluindo a pressurização e o motor turboélice.


O programa de desenvolvimento da família Vickers Viscount contou com dezenas de protótipos, incluindo o Vickers V630 Viscount (32 passageiros), o Vickers V663 Viscount (motor Rolls-Royce Tay), Vickers V640 Viscount (motor Napier Naiad), Vickers V700 Viscount (motor Rolls-Royce Dart com 1.380 shp) e o Vickers V800 Viscount (com fuselagem alongada em 1,3 metro), sendo que os três primeiros protótipos desta lista não chegaram a ser fabricados em série. Todas as unidades de série possuíam fuselagem larga o suficiente para permitir a fixação de até cinco assentos por fileira, numa configuração de alta densidade.


Assim, o modelo Vickers V700 Viscount foi oficialmente apresentado às companhias aéreas interessadas ou potenciais em 1950, representando um avanço tecnológico significativo e generalizado, inclusive em termos de desenvolvimento de novas ligas metálicas; motorização turboélice; pressurização de cabine; galley para refeições rápidas, com pratos frios e quentes; toalete para necessidades básicas; controles duplos na cabine de comando ou cockpit, combinados com piloto automático; redundância de sistemas, incluindo um sistema hidráulico redundante; sistema anti-ice nas asas, nos motores e no bordo de ataque das hélices; radar meteorológico; e sistema de alerta de estol do tipo stick shaker, uma espécie de vibrador de manche usado para alertar a tripulação sobre velocidade baixa demais; dentre outros.


Resumindo: Tratava-se, na época, de um dos modelos de aeronaves mais sofisticados, modernos, avançados e confortáveis para transporte comercial de passageiros. Ele era a última palavra em termos de Engenharia Aeronáutica. O fabricante optou por uma robusta fuselagem de seção transversal com formato circular em folhas de alumínio aeronáutico, combinado com longarinas, nervuras, anéis e outras peças de metal, capazes de suportar a pressão interna gerada pelo sistema de pressurização.


Ele representou um dos maiores avanços da história da aviação comercial mundial, ele foi o primeiríssimo avião turboélice para transporte comercial de passageiros fabricado em série, com a certificação europeia conquistada pela Vickers-Armstrongs em 1953, com sua entrada em serviço pela companhia aérea britânica BEA – British European Airways, em suas rotas domésticas e internacionais, no mesmo ano.


O quadrimotor Vickers Viscount passou a ser usado também pela US Capital Airlines, dos Estados Unidos; pela Air France; pela TCA - Trans Canada Airlines; pela Air Lingus, da Irlanda; pela Northeast Airlines, dos Estados Unidos, pela TAA – Trans Australia Airlines; pela Continental Airlines, dos Estados Unidos; pela Ansett-ANA Austrália; pela SAA – South African Airways; pela Misrair / Egyptair, do Egito, pela VASP – Viação Aérea São Paulo, do Brasil; pela British Midland; pela CAA – Central African Airways, da então Rodésia, atualmente Zimbábue; pela Pluna – Líneas Aéreas Uruguayas; pela Cubana de Aviación, de Cuba; pela Cambrian Airways, do Reino Unido; e pela CAAC – Companhia Aérea Popular da China; dentre outras.


VERSÕES DA FAMÍLIA

De modo geral, os aviões da família Vickers Viscount são clássicos projetos de quadrimotores de propulsão turboélice de médio porte das décadas de 1950 e 1960, com trem de pouso triciclo retrátil, com asas baixas e retas e cabines pressurizadas de construção semimonocoque convencional em alumínio e ligas metálicas, com capacidade para transportar entre 40 e 80 passageiros em viagens intermunicipais, interestaduais e internacionais dentro de um mesmo continente.


Eles foram os primeiros modelos de aviões com motorização turboélice da história da indústria aeronáutica mundial, com fabricação em série, principalmente para transporte civil de passageiros e cargas, embora versões militares de transporte também tenham sido fabricadas, com confiabilidade e performance superior aos motores radiais a pistão, muito comuns na época, usados até mesmo para tracionar os aviões intercontinentais da época.


A família Vickers Viscount possui dois modelos principais, o Vickers V700 Viscount, mais curto, com capacidade variando entre 43, 53 e 63 passageiros, em baixa, média e alta densidade, respectivamente, e o Vickers V800 Viscount, mais longo, com capacidade para até 80 passageiros, em alta densidade, totalizando mais de 80 versões e sub-versões diretamente derivadas desses dois modelos principais.


VICKERS V700 VISCOUNT

Esse é o modelo original da família Vickers Viscount, com capacidade entre 43 passageiros, em baixa densidade, com duas classes, 53 passageiros, em média densidade, em classe única, e, posteriormente, quando passou a ter motores mais potentes, chegando a até 63 passageiros, em alta densidade e classe única, com alcance de cerca de 2.300 quilômetros, com 43 passageiros a bordo. Foi o modelo mais fabricado, totalizando mais de 280 unidades, em mais de 60 sub-versões.


VICKERS V800 VISCOUNT

Esse é o segundo modelo principal da família Vickers Viscount, com capacidade variando entre 60 passageiros e 80 passageiros, dependendo da configuração de assentos adotada pela companhia aérea operadora, com alcance de 2.300 quilômetros, com 60 passageiros a bordo. Foram mais de 20 versões e sub-versões, totalizando mais de 150 unidades fabricadas.


ALTA TECNOLOGIA

O icônico Vickers Viscount era uma das mais avançadas aeronaves comerciais de sua época, com pressurização de cabine, velocidade de cruzeiro de cerca de 480 km/h (alguns modelos mais potentes chegavam a 580 km/h), altitude de cruzeiro de 7.800 metros, toalete para tripulação e passageiros, galley para refeições quentes e frias, sistema de degelo nas asas, assentos reclináveis na cabine de passageiros, dentre outros itens.


Alguns anos após o início da produção seriada, ele passou a ser fabricado com ar condicionado na cabine de passageiros, isolamento acústico melhorado e radar meteorológico, o que representou mais um passo adiante em nível tecnológico e conforto aos passageiros.


A ideia era produzir em série e em larga escala um avião com bom alcance doméstico e internacional para voos dentro de um mesmo continente, com cabine de passageiros pressurizada, com boa velocidade de cruzeiro e um bom nível de confiabilidade, com redundância de sistemas e aviônicos avançados, para os padrões época. Em tese, em caso de falha de um dos motores a aeronave teria condições de se manter em voo até uma parada de emergência mais próxima por meio dos motores remanescentes.


A capacidade de assentos dos modelos da família Vickers Viscount variava conforme o perfil de cada companhia aérea, com opções de configurações mistas e configurações únicas, começando com uma configuração mista de dois ambientes, a primeira classe e a classe econômica, e uma configuração de apenas um ambiente, com classe única, em alta densidade. De modo geral, as passagens eram caras, portanto acessíveis somente para uma elite de passageiros, com serviço de bordo impecável, com aeromoças refinadas e cultas, falando pelo menos duas línguas, além de sua língua nativa, um luxo.


MERCADO

Os aviões da família Vickers Viscount são considerados sucesso de vendas, eles são considerados os sucessos naturais do também clássico Douglas DC-4, um dos modelos de aviões comerciais para transporte doméstico e regional de passageiros mais bem sucedidos das décadas de 1940 e 1950. O projeto do Vickers Viscount tem uma importância histórica no contexto da aviação doméstica e regional pelo mérito de ter possibilitado a integração em diversos países de grandes dimensões, incluindo o Brasil, onde foi utilizado para transporte de passageiros e de cargas, transportando milhões de passageiros.


Durante a década de década de 1950, o projeto do Vickers Viscount foi utilizado como base para a criação e o desenvolvimento do turboélice quadrimotor para transporte doméstico e internacional de passageiros Vickers Vanguard, um avião maior, com capacidade para até 140 passageiros, dependendo da versão, com mais de 40 unidades fabricadas.


NO BRASIL

Aqui no Brasil, o Vickers Viscount foi bem sucedido, utilizado intensivamente em voos domésticos pela VASP – Viação Aérea São Paulo, uma das principais companhias aéreas brasileiras da época, e utilizado pela FAB – Força Aérea Brasileira, neste caso principalmente para o transporte do presidente da República e de ministros de estado.


Ele foi utilizado intensivamente, aqui no Brasil, por cerca de 30 anos, pela FAB - Força Aérea Brasileira, neste caso renomeado para Vickers VC-90, principalmente para o transporte presidencial, incluindo os presidentes Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, João Goulart, Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo.


Uma dessas unidades utilizadas para transporte governamental foi conservada e está disponível para visitação no MUSAL - Museu Aeroespacial da FAB - Força Aérea Brasileira, localizada no Campo dos Afonsos, no município do Rio de Janeiro, a capital do estado do Rio de Janeiro.


FICHA TÉCNICA
ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS


V810 VISCOUNT

  • Capacidade: Até 80 passageiros (alta densidade);
  • Tripulação de cockpit: 1 piloto, 1 co-piloto e 1 engenheiro;
  • Tripulação de cabine: 2 ou 3 comissárias;
  • Velocidade de cruzeiro: Aprox. 560 km / h;
  • Comprimento: Aprox. 26,2 metros;
  • Envergadura: Aprox. 28,6 metros;
  • Altura: Aprox. 8,2 metros;
  • Motorização: 4 X Rolls-Royce Dart Mk.525 (2.000 shp / cada);
  • Hélices: Metálicas, de 4 pás, com anti-ice;
  • Teto de serviço: Aprox. 7.600 metros;
  • Vida útil da célula: Aprox.
  • Pista de pouso: Aprox. 1.500 metros (lotado / dias quentes);
  • Alcance: Aprox. 2.300 quilômetros (lotado / 75% potência / com reservas);
  • Peso máximo de decolagem: Aprox. 30.000 kg;


REFERÊNCIAS E SUGESTÃO DE LEITURA

  • Wikipedia (em inglês): https://en.wikipedia.org/wiki/Vickers_Viscount
  • BAE Systems: Imagens
  • Wikimedia: Imagens

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