FENOLOGIA (AGRICULTURA)
FENOLOGIA
ESTÁDIO FENOLÓGICO
AGRICULTURA
INTRODUÇÃO
A Fenologia é o estudo metódico e pormenorizado dos fenômenos periódicos relacionados ao ciclo de vida dos seres vivos, incluindo o nascimento, desenvolvimento ou crescimento, reprodução e morte deles, principalmente os vegetais, e suas relações com as condições do ambiente em que estão fixados, incluindo a abordagem detalhada sobre os aspectos morfológicos, ou seja, o estudo da forma ou aspecto dos vegetais em cada uma das fases do ciclo e o que cada um desses detalhes morfológicos representa.
Ela é um dos
ramos ou divisões da Ecologia e estuda
os fenômenos periódicos dos seres vivos e suas relações com as condições do
ambiente em que vivem, tais como fertilidade do solo, temperatura ambiente, luz
e umidade. Entre os exemplos de estudos da Fenologia está a migração das aves e
o crescimento, a floração e a frutificação de plantas, como fenômenos cíclicos,
ou seja, fenômenos que se repetem de forma periódica e mais ou menos previsível.
O termo Fenologia teve origem no termo Fenomenologia,
pois essa ciência estuda as mudanças exteriores (morfologia e/ou aparência
externa) e as transformações estruturais que estão relacionadas ao ciclo da
cultura. Representa, portanto, o estudo de como a planta se desenvolve ao longo
de suas diferentes fases: germinação, emergência, crescimento e desenvolvimento
vegetativo, florescimento, frutificação ou formação das sementes, maturação e
morte.
IMPORTÂNCIA DA FENOLOGIA
A Fenologia é o estudo das relações entre os processos biológicos de animais e vegetais e o ambiente no qual estão inseridos, inclusive com uma abordagem detalhada sobre cada fase de crescimento de uma planta. No contexto da agricultura, por exemplo, a Fenologia ajuda a determinar as necessidades nutricionais, ambientais e de defesa das plantas, identificando, inclusive, os chamados fatores críticos que podem prejudicar a produtividade.
Nas últimas três décadas, os estudos fenológicos
ganharam importância tanto no contexto da conservação ambiental, em razão da
necessidade do ser humano conservar os seus recursos naturais a longo prazo,
quanto no contexto da agricultura e pecuária, em razão principalmente da
necessidade de aumentar a eficiência da produção rural mantendo a mesma área
cultivada.
A Fenologia
contribui para o entendimento da regeneração das áreas de produção agrícola e
de conservação ambiental, incluindo os ciclos reprodutivos das plantas, da
organização temporal, dos recursos dentro das comunidades e das interações simbióticas
entre as plantas e os animais, nas quais eles dependem das plantas para
alimentação e as plantas dependem dos animais como distribuidores naturais de
sementes.
No contexto
da silvicultura, o estudo destes fenômenos fenológicos também é importante para
a compreensão da estrutura dos ecossistemas florestais. Tais informações
permitem identificar as respostas das plantas aos fatores abióticos e edáficos.
Além disso, essas observações são de grande utilidade para o desenvolvimento de
um plano adequado de ordenamento da floresta e para preservação da vida dentro
das florestas.
A fenologia de uma planta, tanto na agricultura quanto
na silvicultura, constitui uma ferramenta eficaz de manejo que possibilita
identificar, por meio da observação dos caracteres morfológicos (detalhes sobre
a forma ou aspecto da planta), o tempo fisiológico ao qual se encontram
associadas as necessidades desse vegetal que, uma vez atendidas, possibilitarão
seu desenvolvimento normal e, consequentemente, alcançarão os rendimentos
adequados.
EXEMPLOS PRÁTICOS
A Fenologia é o estudo detalhado de como a planta se desenvolve ao longo de suas diferentes etapas, incluindo a germinação (nascimento), emergência (fase inicial), crescimento (ganho de altura do caule e profundidade da raiz) e desenvolvimento vegetativo, florescimento (aparecimento e abertura das flores), frutificação (aparecimento dos frutos) e formação das sementes, maturação e morte.
Aqui no
Brasil, dentre os exemplos mais comuns de estudos fenológicos de culturas de
larga escala estão a cana-de-açúcar, o arroz, o feijão, a soja e o milho, por
razões óbvias, já que se trata de algumas das mais importantes commodities
produzidas no país, tanto para exportação quanto para servir de principais alimentos da população brasileira.
Como este blog não tem a pretensão de substituir os materiais
didáticos e acadêmicos das escolas e universidades, que são mais completos e
detalhados, segue apenas um resumo da fenologia dessas que estão entre as
principais culturas brasileiras.
FEIJÃO
A escala de desenvolvimento do feijoeiro (pé de feijão), por exemplo, compreende duas grandes fases ou estádios, a fase vegetativa e a fase reprodutiva, as quais subdividem-se em dez subestádios. A fase vegetativa (V) é constituída dos subestádios V0, V1, V2, V3 e V4, e a reprodutiva (R) dos estádios R5, R6, R7, R8 e R9. Observe atentamente aqui, neste parágrafo, que o termo mais utilizado nos materiais didáticos e acadêmicos de Agronomia, Ecologia, Engenharia Agrícola e Biologia é estádio (com “d” mesmo), embora o uso da palavra estágio seja possível.
Os critérios utilizados para identificar os estádios e os subestádios de desenvolvimento do feijoeiro devem considerar as influências de todos os
fatores que afetam o comportamento da cultura, sejam externos, como o clima e o
manejo, por exemplo, ou internos, como a variedade cultivar plantada por meio
de sementes selecionadas.
As plantas têm exigências diferentes de nutrientes e
de água nas diferentes fases fenológicas, respondendo melhor ao controle de
pragas e doenças quando feitos na fase mais adequada, portanto com a tomada de
decisão no momento mais adequado pelo produtor rural, quando assessorado por um
engenheiro agrônomo ou técnico.
CANA-DE-AÇÚCAR
Os estágios fenológicos da cana-de-açúcar, por exemplo, são a brotação e emergência, o perfilhamento, o crescimento dos colmos e a maturação dos colmos. O broto rompe as folhas da gema e se desenvolve em direção à superfície do solo. Ao mesmo tempo surgem as raízes do tolete. A emergência (relembrando que a palavra emergência usada aqui tem sentido diferente do sentido comum, significando surgimento ou aparecimento) do broto ocorre de 15 a 30 dias após o plantio.
O broto é um caule em miniatura que surge acima da superfície do solo, chamado de colmo primário. Essa fase depende da qualidade da muda, ambiente, época e manejo do plantio. A muda nada mais é que um pedaço ou segmento pequeno ou médio do caule da cana-de-açúcar, que foi previamente cultivado ou não para ser transplantado no solo. Nesse estágio ocorre, ainda, o enraizamento inicial, duas a três semanas após a emergência, e o aparecimento das primeiras folhas.
O perfilhamento
é o processo de emissão de colmos por uma mesma planta, os quais recebem a
denominação de perfilhos. O processo de perfilhamento é regulado por hormônios
e resulta no crescimento de brotos que vão em direção à superfície do solo.
Esses brotos aparecem de 15 a 30 dias após a emergência do colmo primário. Por
meio desse processo, ocorre a formação da touceira da cana-de-açúcar e a
população de colmos que será colhida. É importante destacar que a formação do
sistema radicular da touceira é resultado do desenvolvimento das raízes de cada
perfilho.
O crescimento
dos colmos ocorre a partir do auge do perfilhamento. Os colmos sobreviventes
continuam o crescimento e desenvolvimento, ganhando altura e iniciando o
acúmulo de açúcar na base. O crescimento é estimulado por luz, umidade e calor.
Durante essa fase, as folhas mais velhas começam a ficar amareladas e secam.
A partir de
então o crescimento radicular torna-se mais vigoroso, se torna mais intenso,
tanto nas laterais quanto em profundidade. A maior parte das raízes estão nos
primeiros 40 centímetros de profundidade, sendo essa a zona principal no que
concerne à absorção de água e nutrientes por parte da cultura.
Então há a definição da população final de colmos. O canavial pode atingir altura de cerca de 3,5 metros, com a população final de colmos variando em função das condições de clima e solo. A maturação inicia-se junto com o crescimento intenso dos colmos sobreviventes do perfilhamento das touceiras. O excesso de açúcar permanece armazenado na base de cada colmo.
Quando as
touceiras atingem altura igual ou superior a dois metros, nota-se o
amarelecimento e a consequente seca das folhas que se encontram na altura
mediana da planta, indicando que já está sendo depositado açúcar nessa região.
MILHO
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de milho. Ano após ano, o país vem melhorando sua produção dessa commodity. Em 2019, por exemplo, o país foi o terceiro maior produtor mundial, com mais de 115.000.000 de toneladas, atrás apenas dos Estados Unidos e da China.
Aqui no Brasil, a produção em larga escala do milho pode ser dividida em três grupos:
- Superprecoce, com duração de até 110 dias;
- Normal, com duração entre 110 e 145 dias;
- Tardio, com duração de mais de 145 dias;
Nesses três grupos citados acima, o desenvolvimento da planta pode ser divido em dois estádios, o estádio vegetativo e o estádio reprodutivo. O primeiro estádio, chamado estádio vegetativo, começa com a germinação da semente e emergência (aparecimento inicial) e termina com o pendoamento. Já o segundo estádio, chamado estádio reprodutivo, começa a partir do pendoamento e termina no ponto de maturidade do grão, quando ele seca.
De modo
geral, o estádio vegetativo é caracterizado pela quantidade e formato das
folhas da planta, enquanto o estádio reprodutivo ocorre durante o
desenvolvimento da espiga de milho. Para o produtor rural, é importante
conhecer esses estádios para que ele possa tomar as decisões mais adequadas em
cada momento da cultura, pois quanto mais ágeis e precisas forem as decisões de
aplicar herbicidas, inseticidas e fungicidas mais eficiente será a produção
(mais econômica e mais rentável, inclusive) e menor será o dano ao meio
ambiente.
O estádio
vegetativo é subdividido em subestádios, que começa com o subestádio VE e
termina com o subestádio VT. Por exemplo, o subestádio VE é caracterizado pela
germinação das sementes e a emergência das plântulas de milho. Essa fase é delicada, o produtor deve ficar atento ao volume de chuva, que não deve
ser alto demais (e este é um fator impossível de controlar, infelizmente); e temperatura
ambiente, com um ideal entre 25º Celsius e 30º Celsius (também incontrolável);
V3 até V5: A
planta ainda é pequena. Nesses subestádios ocorre a definição do potencial de
produção. No subestádio V4, por exemplo, a perda de folhas pode causar uma redução
da produtividade futura entre 6% a 14%. No subestádio V5 já está definido
naturalmente a quantidade de folhas e espigas que a planta terá. Neste
subestádio, a temperatura ambiente baixa pode prejudicar a produção, com
prolongamento do ciclo da cultura.
V6 até V10: Esses
subestádios são caracterizados pelo rápido crescimento da planta, inclusive com
rápido crescimento radicular, ou seja, crescimento da raiz. A adubação
nitrogenada deve ser realizada com o máximo de precisão possível, tanto para
suprir as necessidades nutricionais da planta quanto para evitar desperdício ou
excesso, ainda mais nestes tempos difíceis, em que os fertilizantes estão
caros. No subestádio V8 já está definido naturalmente o número de fileiras de
grãos na espiga.
V12 até V18: No
subestádio V12 o número de grãos para cada espiga já está definido naturalmente.
No subestádio V17, os estilos-estigmas, ou seja, os cabelinhos da espiga de
milho, começam a se desenvolver. Nesses subestádios a falta de chuva ou chuva
insuficiente pode causar redução de até 20% da produtividade futura.
O VT,
conhecido também como pendoamento, é o subestádio caracterizado quando o último
ramo do pendão está completamente visível e os cabelinhos ainda não emergiram
da espiga. Nessa fase, a falta ou insuficiência de chuva, associada a
temperaturas ambiente de 35º Celsius ou mais, pode causar a redução da formação
de grãos de pólen, com a consequente redução de formação de grãos na espiga.
O estádio
reprodutivo é subdividido em subestádios, que começam com o subestádio R1 e
termina com o subestádio R6. Por exemplo, o subestádio R1 é caracterizado pelo
embonecamento e polinização das espigas. Mais uma vez, o produtor deve ficar
atento ao volume de chuva e à temperatura, mas, neste caso específico, o volume
de chuva não deve ser muito baixo e a temperatura não deve ser alta demais (o que, obviamente, está fora do controle do produtor).
Além disso, é preciso ficar atento ao eventual aparecimento da
lagarta-da-espiga, que se alimenta dos cabelinhos da espiga.
No subestádio
R2 os grãos são bem “moles”, formados basicamente por açúcares. Entre os
subestádios R2 e R5, o produtor deve estar atento às ocorrências de falta de
água, ataques de pragas e doenças foliares, ou seja, doenças das folhas, falta
de nutrientes na planta, neste caso sendo possível corrigir com fertilizantes
foliares, o seja, adubos aplicados diretamente na planta.
O subestádio
R3 é caracterizado pela transformação dos grãos em amido, recebendo a
denominação de grão leitoso. O subestádio R4 é caracterizado pelo ganho de peso
do grão, com um pouco mais de consistência, com cerca de 70% de umidade e com
aproximadamente metade do peso de um grão adulto. O subestádio R5 é
caracterizado pela redução do teor de umidade para 50%. O subestádio R6 é
caracterizado pela formação completa dos grãos na espiga e redução da umidade
para 30%.
SOJA
De forma semelhante ou não muito diferente à cultura do milho, o desenvolvimento da soja também pode ser dividido em dois grupos, o estádio vegetativo e o estádio reprodutivo. O primeiro estádio, chamado estádio vegetativo, ocorre quando a planta prioriza o seu crescimento e o acumulo de reservas. Já o segundo estádio, chamado estádio reprodutivo, ocorre quando as flores se desenvolvem e quando há a formação do grão de soja.
Antes de
semear a soja há a necessidade de realizar cuidadosamente os tratos culturais,
como, por exemplo, a adubação potássica e o processo de embebição dessas
sementes. O subestádio VE é caracterizado pelo início do processo germinativo,
com a emergência da plântula, na qual os cotilédones ficam acima do solo. Nesse
momento há necessidade de prestar atenção sobre uma eventual presença de pombas
na área plantada.
O subestádio
VC é caracterizado pelo desenvolvimento completo dos cotilédones, abertos e
curvados para baixo, com os bordos das folhas unifolioladas separados. Esse
subestádio tem uma duração média de 3 até 10 dias. Esse é um período crítico,
no qual pode haver ataque de patógenos e pragas de solo.
O subestádio
V1 é caracterizado pelo completo desenvolvimento das folhas unifolioladas e o
desenvolvimento da primeira folha trifoliolada, com os bordos separados, além
do aparecimento do primeiro nó. Esse período exige atenção do produtor,
principalmente sobre um eventual aparecimento de patógenos de solo e pragas,
como os coleópteros. A fixação biológica de nitrogênio é iniciada.
O subestádio
V2 é caracterizado pelo aparecimento do segundo nó e da segunda folha
trifoliolada, com os bordos separados. A fixação biológica de nitrogênio também
ocorre nesse subestádio. Aqui também há necessidade de atenção sobre eventual
ataque de pragas e doenças de solo, além da competição entre o pé de soja e as
plantas daninhas por nutrientes de solo, água e luz solar.
Os subestádios
V3 e V4 compreendem o aparecimento da terceira folha trifoliolada, seguida de
mais um nó e de mais uma folha trifoliolada, na sequência, com o aparecimento de
pelo menos 10 nódulos por planta. O subestádio V5 é caracterizado por cinco nós,
com o surgimento dos ramos laterais, com vagens de soja.
O estádio
reprodutivo é subdividido em subestádios, que começam com o subestádio R1 e
termina com o subestádio R8. Por exemplo, o subestádio R1 é caracterizado pelo
início do florescimento, com pelo menos uma flor aberta, seguido do subestádio
R2, com o florescimento pleno. Nesse momento, o produtor precisa ficar atento
ao eventual aparecimento de insetos. Nesse momento, ocorre o início da
acumulação de matéria seca e de nutrientes da planta, sendo recomendada a análise
por amostragem dos teores de nutrientes foliares e avaliação da quantidade de
nutrientes presentes no solo.
O subestádio
R3 é caracterizado pelo crescimento das vagens, com até 5 milímetros se
comprimento, já sendo possível verificar qual o número médio ou aproximado de
vagens por planta, uma informação importante para o produtor se planejar para
os próximos meses. No subestádio R4, as vagens já estão completamente
desenvolvidas, embora ainda em fase inicial de acumulação de matéria seca pelas
vagens.
No subestádio
R5 há o início do enchimento dos grãos, com distribuição de matéria seca e
nutrientes nos grãos. Esse momento é considerado crítico, com atenção redobrada
sobre eventual ataque de percevejos, que sugam a planta. Já no subestádio R7 há
a maturação fisiológica dos grãos, com 60% de umidade, com tendência de queda da umidade.
Finalmente chega o subestádio R8, caracterizado pela maturidade completa, com
95% das vagens maduras, seguida de uma redução da umidade para 15%,
aproximadamente, nos próximos 10 dias.
Chega então o
momento da colheita, com umidade de cerca de 13%, embora seja possível a
colheita com umidade um pouco maior, porém com gastos posteriores maiores,
principalmente com secagem.
REFERÊNCIAS E SUGESTÃO DE
LEITURA
- Universidade Anhanguera:
https://blog.anhanguera.com/engenharia-agronomica-ou-agronomia/
- Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fenologia
- Wikimedia: Imagens
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