FIAT 147

PROJETO 147
PROJETO TIPO 147
FIAT 147 (MODELO HATCH)
FIAT 147 SPAZIO (MODELO HATCH)
FIAT 147 PICK-UP (A PARTIR DE 1978)
FIAT 147 FIORINO (A PARTIR DE 1982)
FIAT 147 OGGI (MODELO SEDAN)
FIAT 147 PANORAMA (MODELO PERUA)
FIAT 148 (NO URUGUAI)
PROGRAMA PRO-ÁLCOOL
CRISE DO PETRÓLEO
CACHACINHA (APELIDO)
FIAT DO BRASIL


INTRODUÇÃO

Logo acima, a dianteira do pequeno, simples e econômico automóvel, o Fiat 147, o primeiro modelo de automóvel fabricado pela então recém inaugurada Fiat do Brasil e o primeiro modelo de automóvel movido a álcool combustível ou etanol no mundo, a partir de 1976. Logo abaixo, a traseira do gracioso automóvel compacto da Fiat do Brasil, um clássico modelo de automóvel popular, um grande sucesso de vendas.

O Projeto 147 foi um bem sucedido plano industrial privado de criação, desenvolvimento e fabricação em larga escala no Brasil, a partir da década de 1970, de uma família completa de automóveis populares compactos de carroceria monobloco, baseada em uma plataforma comum, da então recém inaugurada fabricante de automóveis brasileira Fiat do Brasil, a subsidiária da matriz italiana Fiat S.p.A., composta pelo Fiat 147, o modelo original de formato hatch, e seus derivados Fiat Oggi, o sedan, Fiat Panorama, a perua, Fiat Pick-Up, a versão pickup leve utilitária, de caçamba curta, e Fiat Fiorino, nas versões pickup leve utilitária e furgão, de caçamba um pouco maior.


O Fiat 147, o antigo modelo original da década de 1970, criado e desenvolvido pela Fiat do Brasil, utilizando como base o projeto do modelo compacto italiano Fiat 127, é um automóvel compacto de formato hatch de três portas, sendo duas portas laterais e uma porta traseira, para acesso ao porta-malas. Dando continuidade ao Projeto 147, a Fiat do Brasil passou a fabricar também o Fiat Panorama, o modelo compacto de formato perua ou station-wagon, mas apenas em versões de duas portas laterais. Já o Fiat Oggi, o modelo compacto de formato sedan, mas com apenas duas portas laterais, é um derivado direto do Fiat 147, mas com um porta-malas de volume maior. E para concluir a formação de uma família completa de automóveis econômicos e populares, a Fiat do Brasil lançou os pequenos utilitários Fiat Pick-Up e Fiat Fiorino, o primeiro uma pickup leve também baseada no Fiat 147, mas de caçamba curta, e o segundo uma pickup leve de capacidade um pouco maior, com caçamba alongada, ou furgão.


Nas décadas de 1970 e 1980, os principais concorrentes da Família 147 da Fiat do Brasil foram o hatch Volkswagen Brasília, um sucesso de vendas; o econômico sedan Ford Corcel, fabricado em duas gerações, acompanhado de suas versões perua, a clássica Ford Belina; também um sucesso de vendas; o hatch compacto Volkswagen Gol, acompanhado dos seus derivados Volkswagen Voyage e Volkswagen Parati, que se tornaram sucessos de vendas; o sedan e hatch compactos Chevrolet Chevette, fabricado em apenas uma geração; e, é claro, o compacto automóvel popular Volkswagen Fusca, um grande sucesso de vendas da Volkswagen do Brasil.


O GRUPO STELLANTIS

Logo acima, o logotipo da nova holding Stellantis, formada a partir da fusão das holdings FCA Fiat Chrysler Automobiles, holandesa, e PSA Peugeot Citroen, francesa. Logo abaixo, o logotipo da então FCA Fiat Chrysler Automobiles, a empresa detentora das marcas Fiat, Chrysler, Dodge, Jeep e RAM até 2020.

O grupo empresarial Stellantis NV é uma gigante multinacional holandesa que atende interesses americanos, italianos e franceses, formado em 2021 pela fusão (ou consolidation, na linguagem americana) de duas grandes holdings multinacionais do setor automobilístico, a francesa PSA Peugeot Citroen e a também holandesa FCA Fiat Chrysler Automobiles, esta, por sua vez, também uma gigante multinacional que atendia interesses americanos e italianos do ramo automobilístico ou automotivo, formada em 2014 pela fusão de duas grandes holdings multinacionais, a italiana Fiat SpA e a americana Chrysler Group, passando então a englobar as marcas Fiat, Chrysler, Jeep (utilitários esportivos), Alfa Romeo e Maserati (automóveis premium), Dodge e RAM (caminhões, pickups e comerciais leves), dentre outras.


Em 2019, os grupos automobilísticos PSA Peugeot Citroen, da França, e FCA Fiat Chrysler Automobiles, dos Estados Unidos e da Itália, anunciaram a intenção de promover uma nova fusão para juntar todas as suas marcas em um único grupo automotivo, para reforçar sua posição entre os dez maiores fabricantes de automóveis do mundo, com economia de escala no compartilhamento de plataformas e chassis (bases estruturais, motores e câmbios) e compartilhamento de uma variedade de peças, partes e componentes, com aquisição de matérias primas (aços e alumínios, por exemplo) em conjunto, com consequente aumento de competitividade.


Antes disso, em 2016, a marca Ferrari foi separada do então Grupo FCA em uma entidade empresarial sediada na Europa, mas também é controlada pela Família Agnelli, por sua vez formada pelos filhos e netos de Giovanni Agnelli, o fundador da Fiat, a fabricante automotiva italiana. Já as marcas Case e New Holland (tratores e outros utilitários), foram reunidas em 2012 em outra holding, a britânica CNH Industrial, e a marca Iveco (vans, caminhões e chassis para micro-ônibus e ônibus) é controlada pela holandesa Iveco Group, também controladas pela Família Agnelli.


As ações do atual Grupo Stellantis estão disponíveis nas bolsas dos Estados Unidos e na Europa. O então Grupo FCA foi o 8º maior fabricante de automóveis do mundo em 2018, com mais de 4.070.000 unidades fabricadas, enquanto o então Grupo PSA foi o 9º maior fabricante de automóveis, com mais de 3.460.000 unidades. Atualmente, a nova holding Stellantis é a 4ª maior fabricante de automóveis do mundo, com 400.000 funcionários; com instalações produtivas em 30 países; e com escritórios e representantes de vendas em mais de 130 países.


Uma das subsidiárias do Grupo Stellantis no Brasil é a FCA do Brasil, oficialmente FCA Automóveis Ltda, com suas fábricas principais localizadas no município de Betim, que faz parte da região metropolitana de Belo Horizonte, a capital do Estado de Minas Gerais; e Goiana, município da região metropolitana de Recife, no Estado de Pernambuco. Em 2019, esse grupo foi o maior fabricante de automóveis do Brasil, com mais de 496.000 unidades fabricadas, somando os números de vendas das marcas Fiat e Jeep, incluindo os números de vendas do Jeep Compass, do Jeep Renegade, da Fiat Strada e da Fiat Toro, esta uma pickup leve, de carroceria monobloco.


Outra subsidiária do grupo, a PSA do Brasil, foi a 11ª maior fabricante e vendedora de automóveis do país em 2019, com mais de 48.000 unidades fabricadas e comercializadas.


Por razões óbvias, a Stellantis NV anunciou recentemente que está abandonando o mercado russo de automóveis e utilitários.


CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

Logo acima, o painel e os assentos simples, despojados, do clássico carro compacto popular brasileiro, o Fiat 147, um dos maiores sucessos da indústria automotiva brasileira nas décadas de 1970 e 1980, o produto inicial do fabricante italiano no Brasil. Logo abaixo, o porta-malas de capacidade razoável, com 350 litros, mas com a possibilidade de rebater o banco traseiro, aumento assim a capacidade para 930 litros.

Os primeiros esboços do Fiat 147 foram criados no Brasil, na década de 1970, por iniciativa da então recém criada Fiat do Brasil, a subsidiária da gigante italiana Fiat S.p.A., mas eram desenhos baseados em um modelo de automóvel já existente na Europa, o Fiat 127, conservando grande parte dos seus conceitos mecânicos, elétricos, eletrônicos, de estrutura e até estéticos, incluindo alguns detalhes importantes, como, por exemplo, a suspensão traseira com um arranjo incomum até então, um conjunto formado por um feixe de molas semielípticas, disposto na posição transversal, portanto mais robusto que alguns modelos nacionais concorrentes da época.


Esses desenhos foram criados em conjunto pelos projetistas brasileiros e os projetistas italianos, dentre eles o designer italiano Pio Manzu, mas com algumas diferenças estéticas pontuais para agradar o consumidor brasileiro, inclusive com uma nova frente semiquadrada, mais graciosa e harmônica até que o modelo europeu. Os primeiros esboços foram avaliados no Brasil e na Itália pelo então presidente mundial da Fiat S.p.A., o magnata italiano Giovanni Agnelli, que entendeu e compreendeu a proposta brasileira de uma família completa e então moderna de automóveis populares.


Moderna mesmo, de verdade: Era o primeiro modelo de automóvel brasileiro que combinava motorização dianteira e transversal com tração dianteira, uma novidade na época, portanto com excelente aproveitamento de espaço interno, com até 78% do comprimento total do automóvel, de 3,6 metros, reservado para o habitáculo de ocupantes e o porta-malas. Embora com uma medida de entre-eixos curtíssima, com apenas 2,2 metros, portanto sendo, a rigor, considerado um automóvel subcompacto, ele consegue transportar com razoável conforto até quatro adultos, incluindo o condutor, e uma criança.


A proposta era a de criação, desenvolvimento e fabricação em larga escala, na então nova fábrica de automóveis de passeio da Fiat do Brasil, no município de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, de um automóvel compacto e econômico, baseado em um projeto europeu, mas adaptado para as duras condições das rodovias, ruas e avenidas brasileiras, com alto índice de nacionalização de peças, partes, componentes e mão de obra nos processos de fabricação. Em caso de sucesso do Projeto 147, a maior parte das ideias criadas e desenvolvidas para o Fiat 147, o modelo original da família, seria estendida para três outros modelos derivados, o sedan compacto Fiat Oggi, a perua compacta Fiat Panorama e a pickup leve Fiat Pick-Up. O sucesso foi tanto que a Família 147 recebeu mais dois modelos, o Fiat Fiorino Pick-Up, conhecido também como Fiat Fiorino City, e o Fiat Fiorino Furgão.


Inicialmente, os projetistas brasileiros chegaram à conclusão de que o pequeno motor europeu Fiat 100 OHV 903, com 903 cilindradas, não teria força suficiente para tracionar o Fiat 147, com seus 800 quilos vazio, optando-se então pelo motor Fiasa OHC 1050, desenvolvido especialmente para o mercado brasileiro, com 1.050 cilindradas, inicialmente com 60 cavalos e 10 kgfm de torque, o suficiente para acelerar de 0 a 100 km/h em 18 segundos.


Embora o Fiasa OHC 1050 fosse um motor com desempenho modesto, tratava de um dos mais modernos motores disponíveis na indústria automobilística brasileira da época, concebido inicialmente na Itália, pelo projetista italiano Aurélio Lampredi, mas desenvolvido no Brasil, pela própria Fiat do Brasil. Ele conta com bloco de ferro fundido, cabeçote de alumínio, quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro, com acionamento por meio de correia dentada, com refrigeração ou arrefecimento a água e ignição eletrônica (não confundir com injeção eletrônica), inicialmente com taxa de compressão de 7:1, pois estava limitado à gasolina brasileira de baixa octanagem da época.


Inicialmente, nos primeiros anos de fabricação, esse motor teve um problema de fragilidade da correia dentada, que, na prática, obrigou os proprietários a trocá-la antes de completar o prazo recomendado de troca do próprio fabricante. Com o passar dos anos esse problema foi resolvido. Mas além dele havia outro problema, o câmbio, cujo engate de algumas marchas era difícil, quase impossível, exigindo do cliente um exercício de paciência, problema que só foi solucionado por completo na década de 1990, já dentro do projeto do Fiat Uno.


Além disso, o acabamento das primeiras versões do Fiat 147 era muito simples, despojado e totalmente básico, com muito plástico barato no painel e na parte interna das portas e um pouco ou quase nada de tecido barato nos bancos. Tratava-se de um modelo original de automóvel popular, para uso de jovens solteiros ou famílias de classe média e/ou baixa de até quatro pessoas com até 1,7 metro de altura, mais uma criança, com espaço razoável para pernas e cabeças dos cinco ocupantes, embora uma quinta pessoa adulta a bordo fosse possível, mas com algum desconforto.


Apesar desses pontos fracos, o Fiat 147 foi lançado em 1976 e se tornou rapidamente um grande sucesso de vendas no Brasil nas décadas de 1970 e 1980, graças, em parte, à política da Fiat do Brasil de expandir rapidamente a sua rede de concessionárias para atender o seu público consumidor em todas as regiões do país, incluindo a criação de uma rede formada por veículos utilitários de atendimento móvel, com motoristas / mecânicos capaz de prestar os primeiros atendimentos ao veículo com problemas mecânicos e/ou elétricos, até ser levado para uma solução definitiva na concessionária, totalizando mais de 700.000 unidades fabricadas no Brasil, parte delas exportada para a Europa, que, como todo mundo sabe, é um mercado exigente.


A família Fiat 147, formada também pelo Fiat Oggi, o modelo sedan; o Fiat Panorama, o modelo perua; o Fiat Pick-Up, uma pickup leve; e o Fiat Fiorino, tanto em versões pickup quanto em versões furgão, foi um dos projetos mais bem sucedidos da indústria automobilística mundial na época, com mais de 1.500.000 unidades fabricadas, principalmente no Brasil, embora também tenha sido fabricada na Argentina, no Chile, na Colômbia, no Uruguai e na Venezuela.


Apesar de não ser um bom exemplo de automóvel espaçoso e também não ser um bom exemplo de design elegante e ousado, tendo recebido inclusive o apelido, pejorativo ou não, de Cachacinha, em razão do odor característico do combustível de cana-de-açúcar, no caso específico da versão Fiat 147 movida a etanol, lançada em 1979, o pequeno automóvel foi um sucesso de vendas no mercado brasileiro, ao longo de 10 anos de fabricação seriada, de 1976 até 1986, um resultado surpreendente até mesmo para a própria Fiat do Brasil e para a holding Fiat S.p.A. italiana, resultado de uma combinação equilibrada de características mecânicas positivas que agradaram ao típico consumidor brasileiro das classes média e baixa, com economia de combustível, uma característica crucial em tempos de Crise Mundial do Petróleo, e robustez suficiente para enfrentar as duras condições das estradas, rodovias, ruas e avenidas brasileiras.


CONTEXTO DA ÉPOCA

O Projeto 147, conhecido também como projeto Tipo 147, foi a primeira proposta concreta de automóvel popular do Grupo Fiat para fabricação em série no Brasil, por coincidência ou não logo após o início da chamada Crise Mundial do Petróleo, iniciada em 1970, com a elevação brutal do preço do petróleo no mercado mundial, causada pelos países formadores da OPEP – Organização dos Produtores e Exportadores de Petróleo, chegando a até 400% de aumento em 1975.


Antes daquela época, as grandes fabricantes americanas General Motors, Ford e Chrysler estavam acostumadas a fabricar grandes e pesados automóveis porque havia poucos questionamentos dos consumidores americanos sobre os níveis de consumo de combustível. Havia então uma forte inclinação do mercado americano por automóveis espaçosos e confortáveis, colocando os quesitos de consumo de combustível em segundo plano. Aqui no Brasil não era muito diferente, carros grandes como, por exemplo, o Chevrolet Opala e o Ford Maverick, eram sonho de consumo e objeto de desejo dos jovens solteiros e das famílias brasileiras.


Veio a crise do petróleo e então esses grandes fabricantes passaram a projetar e fabricar os chamados automóveis mundiais, ou seja, conceitos padronizados de projeto e fabricação que aproveitavam o máximo possível o que havia de melhor em peças, partes e componentes disponíveis nas matrizes e em cada uma de suas respectivas subsidiárias, em todos os continentes, combinando os melhores e mais bem sucedidos conhecimentos e experiências da tecnologia automotiva sobre a fabricação de plataformas comuns eleitas pelas respectivas matrizes, com lançamentos quase simultâneos de modelos padronizados de automóveis em várias partes do planeta.


Do lado do Grupo Fiat, o Projeto 147 / Projeto 127 podia sim ser considerado um projeto de carro mundial da década de 1970, pois ele aproveitava grande parte dos conceitos do pequeno automóvel europeu Fiat 127, por sua vez um grande sucesso de vendas na Europa. Aqui no Brasil, foi a proposta de automóvel popular com motorização econômica para o mercado nacional, com a promessa de percorrer até 15 quilômetros com um litro de gasolina na rodovia. Entre as principais características positivas do novo modelo de automóvel estavam a motorização dianteira transversal combinada com tração dianteira, com o excelente aproveitamento de espaço interno; o para-brisa laminado, que, portanto, não se estilhaça facilmente após impacto por objeto ou pedra; o comando de válvulas no cabeçote; a suspensão independente na dianteira e semi-independente na traseira; e os pneus radiais.


Um pouco antes do lançamento do Fiat 147 no Brasil, em 1945, o Governo Brasileiro lançou o Pró-Alcool ou Programa Nacional do Álcool, na forma de incentivos governamentais para a produção em larga escala do álcool combustível, posteriormente chamado etanol, e para a fabricação de carros movidos a álcool combustível. Foi a forma encontrada pelo Governo Brasileiro para contornar a Crise Mundial do Petróleo e os preços altos dos combustíveis fósseis. Como resposta a esses incentivos, a Fiat do Brasil lançou, em 1979, o primeiro carro movido a álcool combustível da história mundial, uma versão do Fiat 147 com motor Fiasa 1.3 OHC adaptado para o combustível de cana-de-açúcar.


O mercado brasileiro está, atualmente, entre os dez mais importantes no mundo para praticamente todas as grandes montadoras multinacionais. Entretanto, nas décadas de 1970, 1980 e 1990 este mesmo mercado já era grande. O sucesso do Fiat 147 reforçou essa impressão e despertou a atenção e curiosidade de praticamente todas as grandes montadoras multinacionais americanas, japonesas, sul-coreanas e europeias, embora somente na década de 1990 a maioria delas decidiu entrar definitivamente no mercado brasileiro, seja por meio de importações ou seja por meio de fabricação própria, em larga escala, em território nacional.


O mercado brasileiro é pragmático e a propaganda boca-a-boca ainda tem influência sobre a decisão de compra do consumidor. Isso significa, para quem não é brasileiro, não mora no Brasil e ainda não sabe o significado dessa expressão popular, que um consumidor satisfeito em geral fala bem do produto e estimula ou influencia outro consumidor a comprar mais uma unidade do mesmo produto, resultando em algo como se fosse uma reação em cadeia positiva, resultando em um sucesso de vendas. É um mercado que se comporta com alguma resistência no início, mas passa a fazer propaganda gratuita do produto se experimentar e se sentir satisfeito.


A partir da década de 1980, o Fiat 147 ganhou um concorrente de peso, o pequeno Volkswagen Gol, o modelo original da Família BX, composta também pelo Volkswagen Voyage, um sedan, pela Volkswagen Parati, uma perua, e pela Volkswagen Saveiro, uma pickup leve, também sucessos de vendas no segmento de automóveis compactos.


A FAMÍLIA 147

A Família 147 foi produzida no Brasil nas décadas de 1970 e 1980, ela marcou a entrada do Grupo Fiat no mercado nacional de automóveis. No total, foram fabricados no Brasil cinco modelos principais de automóveis compactos dessa família, o Fiat 147, o modelo original da família, com fabricação seriada iniciada em 1976; o Fiat Oggi, o modelo sedan, baseado no Fiat 147, mas com porta-malas maior, com fabricação seriada iniciada em 1983; o Fiat Panorama, o modelo perua, também baseado no Fiat 147, com fabricação seriada iniciada em 1980; o modelo Fiat Pick-Up, conhecido também como Fiat City, com caçamba curta, com fabricação seriada iniciada em 1978; e o Fiat Fiorino, com caçamba um pouco maior, com fabricação em série iniciada em 1977, além de também ter sido fabricado em versão furgão.


Além da fabricação seriada no Brasil, a Família 147 também foi fabricada na Colômbia, a partir de 1979, a na Argentina, a partir de 1982, além da fabricação seriada no Uruguai e na Venezuela, totalizando mais de 1.500.000 unidades fabricadas.   


FIAT 147

Na década de 1970 a então recém inaugurada Fiat do Brasil, oficialmente Fiat Automóveis S.A., deu início ao Projeto 147, composto por um modelo compacto de entrada, o Fiat 147, baseado em um modelo de automóvel popular europeu, o pequeno Fiat 127, e caso ele conseguisse alcançar um número expressivo de vendas, na sequência viriam os seus quatro modelos derivados, o Fiat Oggi, o Fiat Panorama, o Fiat Pick-Up, conhecido posteriormente como Fiat City, e o Fiat Fiorino. Todos esses modelos passaram a ser fabricados em série e vendidos em grande quantidade na década de 1970 e 1980, todos com versões movidas a gasolina e versões movidas a álcool. Vale lembrar que na época não havia ainda a tecnologia de motorização flex, que permite adicionar gasolina e álcool, simultaneamente, em qualquer proporção, nos tanques de combustível.


O Fiat 147, o modelo principal da família, o mais vendido, começou a ser produzido em série em 1976 como um automóvel de nível de entrada da categoria hatch compacta, ou seja, um automóvel com dois volumes bem definidos, o cofre do motor e o habitáculo dos ocupantes, ou seja, a parte do automóvel em que se acomodam motorista e passageiros. Não é um automóvel aerodinâmico. Embora com motorização transversal, a Fiat do Brasil não introduziu ousadias estéticas e aerodinâmicas no Fiat 147, provavelmente pela sua decisão de fixar o estepe do modelo nacional sob o capô, dentro do cofre do motor, o que, por um lado, pensando bem, teve pelo menos uma vantagem, resultou numa capacidade bem razoável do porta-malas, de 350 litros, até surpreendente para um automóvel compacto da época.


Desde o início, o Fiat 147 foi projetado com suspensão dianteira McPherson, com molas helicoidais e amortecedores, e semi-indepentente na traseira, com molas semielípticas transversais, com pneus 145/80 R13 radiais, combinada com freios dianteiros a discos sólidos e freios traseiros a tambor, acionados mecanicamente, sem assistência. Na época, o veículo foi elogiado pelas principais publicações especializadas, incluindo Quatro Rodas e Autoesporte, principalmente pela economia de combustível, robustez estrutural, estabilidade e manutenção fácil e barata, com espaço interno até razoável para uma família de quatro adultos de estatura moderada e uma criança, apesar do entre-eixos curtíssimo, com apenas 2,2 metros.


Na década de 1970, a modesta motorização Fiasa OHC 1050 aspirada e carburada, a gasolina, refrigerada ou arrefecida a água, de 1.050 cilindradas, do Fiat 147 desenvolvia apenas 60 cavalos de potência e 10 kgfm de torque, o que resultava em um desempenho fraco, precisava de 18 segundos para acelerar de 0 a 100 km/h, em condições normais. Alguns anos depois, em 1979, a Fiat do Brasil introduziu a motorização Fiasa OHC 1.300 a álcool combustível ou etanol, também aspirada e carburada, refrigerada ou arrefecida a água, com 1.300 cilindradas, com 62 cavalos de potência e 11 kgfm de torque, o que resultava em um desempenho um pouco melhor, com 16 segundos para acelerar de 0 a 100 km/h, em condições normais.


Na época, na década de 1970, já estavam instalados aqui no Brasil quatro principais fabricantes multinacionais de automóveis, a alemã Volkswagen, as americanas General Motors (Chevrolet) e Ford e, é claro, a italiana Fiat, embora uma quinta fabricante já estivesse no Brasil, a Toyota do Brasil, mas apenas como fabricante de um utilitário, o Toyota Bandeirante, diretamente derivado de um modelo japonês, o Toyota Land Cruiser.


Essas quatro principais fabricantes multinacionais foram incentivadas pelo Governo Brasileiro a fabricar versões a álcool combustível ou etanol dos seus modelos. Todas elas aderiram ao programa Pró-Álcool, com modelos próprios, incluindo a Fiat do Brasil, com uma versão a álcool do Fiat 147, com algumas modificações no sistema de alimentação para adaptar o modelo ao inédito combustível, inclusive para protegê-lo contra corrosão, com tanque de combustível com uma camada interna de estanho, além de outras modificações na bomba de combustível, nas tubulações de combustível, nas mangueiras e no carburador. Outra modificação foi realizada nos componentes internos do motor, com uma camada de níquel químico para proteger o motor do veículo.


Entre 1976 e 1986, o Fiat 147 foi fabricado em pelo menos quatro versões principais, a Fiat 147 L, mais básica; a Fiat 147 GL, um pouco mais equipada, inclusive com encostos de cabeça nos bancos dianteiros, revestimento dos bancos em tecido e medidor de temperatura do motor; a Fiat 147 Rallye, com carburador de corpo duplo e suspensão alguns centímetros mais alta; e a melhor de todas, a Fiat 147 Spazio, que muitos consideram ser um sexto modelo principal da família Fiat 147, com nova frente, mais bonita e moderna, e acabamento interno mais caprichado.


A fabricação seriada da versão Fiat 147 Spazio foi iniciada em 1982, com frente mais baixa, graças ao redesenho do capô do motor, novos faróis e novas lanternas traseiras, para-choques de plástico, câmbio manual de cinco velocidades ou marchas e acabamento interno melhorado.


FIAT OGGI
FIAT 147 OGGI

O Fiat Oggi foi o quinto integrante da Família 147, lançado em 1983. Ele é um automóvel sedan compacto e econômico, com apenas duas portas laterais, fabricado em larga escala no Brasil, na mesma fábrica da Fiat do Brasil em Betim, no estado de Minas Gerais. Todas as versões do Fiat Oggi foram fabricadas com motorizações Fiasa 1.3 OHC, com 1.300 cilindradas, e Fiasa 1.4 OHC, com 1.400 cilindradas, arrefecidas a água, ambas a álcool combustível, mas também com a opção de motores a gasolina, combinadas com câmbio manual de cinco marchas, para uso moderado, urbano e rodoviário, com carroceria monobloco de aço, mecânica e elétrica baseada no hatch compacto Fiat 147, com suspensão independente na dianteira e semi-independente na traseira. A maioria das versões do Fiat Oggi foi fabricada com acabamento simples.


O nome Fiat Oggi é uma alusão à palavra oggi, em italiano, que significa hoje, dando então a ideia de um modelo de automóvel moderno, atual.


O carro foi projetado para cinco pessoas adultas no total, incluindo o condutor, mas na prática é possível transportar com razoável conforto quatro pessoas adultas e mais uma criança no centro do banco traseiro. Um quinto ocupante adulto é possível, mas viajaria com algum desconforto. Nas rodovias, com cinco pessoas a bordo e bagagem, o comportamento do Fiat Oggi é normal, com estabilidade razoável.


Vale ressaltar que, de modo geral, o limite médio atual de velocidade estabelecido para as rodovias brasileiras é de cerca de 100 km/h para os chamados veículos leves de passeio, praticamente o mesmo limite de velocidade estabelecido por lei na década de 1980. Mesmo assim, a motorização de 1.300 cilindradas do Fiat Oggi ainda deixava a desejar. Como resposta às reclamações dos clientes, a Fiat do Brasil disponibilizou a motorização de 1.400 cilindradas, com performance um pouco melhorada em relação à motorização anterior, com aceleração de 0 a 100 km/h em 16 segundos.


Na década de 1980, o sedan médio Fiat Oggi foi projetado e fabricado desde o início com apenas duas portas laterais. A tampa do porta-malas é bem definida e dá acesso ao compartimento traseiro para cerca de 440 litros de bagagens, portanto quase 100 litros a mais que o pequeno Fiat 147, o modelo original da Família 147. Mesmo assim, mesmo com essa vantagem em relação ao modelo menor, o Fiat Oggi vendeu apenas 20.400 unidades no Brasil.


FIAT PANORAMA
FIAT 147 PANORAMA

O Fiat Panorama é um econômico automóvel do tipo perua, com dimensões compactas, fabricado em larga escala no Brasil na década de 1980. Ele foi o quarto integrante da Família 147, com fabricação em série iniciada em 1980. Todas as versões do Fiat Panorama foram fabricadas com motorizações Fiasa OHC transversais, refrigeradas ou arrefecidas a água, para uso moderado, urbano e rodoviário, com 1.000 cilindradas ou 1.300 cilindradas, combinadas com câmbio manual de cinco marchas, com carroceria monobloco de aço, com suspensão dianteira independente e suspensão traseira semi-independente, apenas com três portas, se levarmos em consideração a porta traseira que dá acesso ao seu porta-malas. A maioria das versões do Fiat Panorama foi fabricada com acabamento simples.


De forma semelhante à Volkswagen Parati, sua principal concorrente na época, o Fiat Panorama (ou a Fiat Panorama, se você preferir, já que se trata de uma perua ou station wagon) foi pensado pelos seus projetistas para transportar cinco pessoas adultas no total, incluindo o condutor, mas na prática é possível transportar com razoável conforto quatro pessoas adultas e mais uma criança no centro do banco traseiro, com ou sem assento de elevação fixado, dependendo da idade. Um quinto ocupante adulto é possível, mas viajaria com algum desconforto. Nas rodovias, com cinco pessoas a bordo e bagagem, o comportamento do Fiat Panorama também é normal, com estabilidade razoável.


A partir de 1980, o Fiat Panorama também passou a ter um conjunto bem equilibrado, com carroceria de dimensões razoáveis para o consumidor típico brasileiro de perfil familiar, honrando a proposta do fabricante de oferecer um veículo leve de passeio de uso moderado, dedicado a transportar a família, na cidade e na rodovia, nos dias se semana e nos finais de semana e feriados.


O Fiat Panorama foi projetado apenas com duas portas laterais. A terceira porta traseira é bem definida e dá acesso ao porta-malas para cerca de 700 litros, mais até que sua principal concorrente Volkswagen Parati, uma das razões para o seu sucesso de vendas, com mais de 115.000 unidades fabricadas no Brasil, com cerca de metade exportada para Argentina e países europeus.


FIAT PICK-UP
FIAT 147 PICK-UP

O Fiat 147 Pick-Up, conhecido também como Fiat City, é um dos dois modelos de pickups leves utilitárias da Família 147, com dimensões compactas, fabricado em larga escala no Brasil nas décadas de 1970 e 1980. Todas as versões do Fiat 147 Pick-Up foram fabricadas com motorizações transversais, para uso moderado, urbano e rodoviário, com 1.000 cilindradas ou 1.300 cilindradas, combinadas com câmbio manual de quatro ou cinco marchas, com carroceria monobloco de aço, com suspensão independente na dianteira e semi-independente na traseira.


Ele foi lançado em 1978, mas inicialmente com produção semiartesanal, passando a ser fabricado em série e em larga escala a partir de 1980, pensado pelos seus projetistas para transportar duas pessoas adultas. A principal e óbvia função da pickup ou picape leve utilitária fabricada em larga escala no Brasil na década de 1980 pela Fiat do Brasil é transportar cargas leves em sua caçamba de dimensões compactas, com capacidade para até 450 kg.


FIAT FIORINO
FIAT 147 FIORINO

Logo acima, a versão furgão da Família 147, que recebeu o nome Fiat Fiorino, com capacidade para até 500 kg de carga. Logo abaixo, a versão pickup leve com caçamba alongada da Família 147, também com a capacidade de 500 kg, com o seu conceito de pickup leve anos depois seguido pela Ford Pampa e pela Volkswagen Saveiro.    

O Fiat Fiorino é um dos dois modelos de pickups leves utilitárias da Família 147, com caçamba aberta alongada, mas fabricado também com a opção de carroceria comercial leve do tipo furgão, portanto com compartimento de carga fechado, com dimensões compactas, fabricado em larga escala no Brasil nas décadas de 1970 e 1980. Todas as versões do Fiat Fiorino foram fabricadas com motorizações transversais, para uso moderado, urbano e rodoviário, com motor Fiasa 1.3 OHC de 1.300 cilindradas, combinado com câmbio manual de quatro ou cinco marchas, com carroceria monobloco de aço, com suspensão independente na dianteira e semi-independente na traseira.


A fabricação em série no Brasil foi iniciada em 1977, mas foi fabricado também na Itália, na Argentina e na Espanha, recebendo o nome Fiat 127 Fiorino no mercado europeu, pensado pelos seus projetistas para transportar duas pessoas adultas na frente e cargas leves na caçamba aberta, portanto uma pickup leve, ou no compartimento de carga fechado, portanto um furgão leve.


A partir de 1977, o Fiat Fiorino passou a ter um conjunto equilibrado, com motorização de 1.300 cilindradas com arrefecimento a água, combinada com câmbio manual de quatro ou cinco velocidades ou marchas, com carroceria de dimensões razoáveis para agradar o consumidor típico brasileiro de perfil profissional urbano, incluindo autônomos, como eletricistas, encanadores e pintores, por exemplo, honrando a proposta do fabricante de oferecer um veículo utilitário leve, com baixo consumo de combustível, para uso moderado urbano e rodoviário no transporte de cargas leves, incluindo máquinas e equipamentos.


O Fiat Fiorino foi desenvolvido no Brasil, para o mercado brasileiro, e o resultado final foi considerado satisfatório pelo mercado nacional e considerado bem razoável pela imprensa. Ele foi a primeira opção nacional de pickup leve disponível no mercado, o primeiro derivado direto de automóvel de passeio, seguido, anos mais tarde, pela Ford Pampa e pela Volkswagen Saveiro, também sucessos de vendas.


Em 1988, a 1ª geração do Fiat Fiorino foi substituída pela 2ª geração do Fiat Fiorino, mas desta vez baseada na plataforma do Fiat Uno.


MERCADO

O Projeto 147 foi um dos maiores sucessos comerciais da história da indústria automobilística brasileira. O Grupo Fiat fabricou mais de 1.500.000 unidades de modelos da Família 147, inclusive na Europa, somando todas as versões do Fiat 147, do Fiat Oggi, do Fiat Panorama, do Fiat 147 Pick-Up e do Fiat Fiorino. É uma das famílias de automóveis mais bem sucedidas da história da indústria automobilística brasileira.


A criação, o desenvolvimento e a fabricação em série e em larga escala da Família 147 no Brasil veio atender a uma demanda reprimida do consumidor brasileiro por automóveis mais modernos e econômicos, motivada pela Crise Mundial do Petróleo, que forçou a maioria dos consumidores a dar prioridade aos níveis de consumo de combustível, deixando os quesitos de desempenho e conforto em segundo plano.


Essa demanda era parcialmente atendida pelo Ford Corcel, pelo Chevrolet Chevette, pelo Volkswagen Fusca, pela Ford Belina e pelo Volkswagen Brasília, mas a introdução do Fiat 147 no mercado surpreendeu pelo conjunto moderno, com robustez, economia de combustível e soluções inteligentes de estrutura e de mecânica, o resultado prático de mais de 1.000.000 de quilômetros rodados em testes de desenvolvimento.


A proposta inicial da Fiat do Brasil, a filial brasileira do Grupo Fiat, era a de um automóvel compacto, fácil de dirigir e com manutenção simples e barata. O modelo inicial, Fiat 147, não podia falhar, pois era o primeiro modelo de automóvel da Fiat do Brasil, com elevado investimento inicial no desenvolvimento do produto e elevado investimento na construção da fábrica em Betim. Apesar de alguns transtornos mecânicos, digamos, é possível afirmar sim que o Projeto 147 não falhou, pois ele deu à Fiat do Brasil uma posição confortável no mercado brasileiro por pelo menos 10 anos.


Em 1978, o Fiat 147 foi eleito o Carro do Ano pela revista Autoesporte.


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FAMÍLIA 147


FIAT PANORAMA


FIAT 147

FIAT PANORAMA


FIAT 147


FIAT 147 SPAZIO


REFERÊNCIAS E SUGESTÃO DE LEITURA

  • Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fiat_147
  • Wikipedia (em inglês): https://en.m.wikipedia.org/wiki/Fiat_147
  • FCA do Brasil (divulgação): Imagens

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