MÚSICA ELETRÔNICA (INDÚSTRIA FONOGRÁFICA)

MÚSICA ELETRÔNICA
MÚSICA TRANCE OU TRANCE MUSIC
MÚSICA HOUSE OU HOUSE MUSIC
MÚSICA DANCE OU DANCE MUSIC
MÚSICA TECHNO OU TECHNO MUSIC
PROGRESSIVE HOUSE
SYNTH-POP OU SYNTHPOP
DRUM AND BASS
DUBSTEP

INTRODUÇÃO
Logo acima, alguns dos maiores ícones da música eletrônica, os veteranos alemães do Kraftwerk. Logo abaixo, o emblemático músico francês Jean Michel Jarre. Eles estão entre os mais respeitados e referenciados criadores de música eletrônica do mundo, com produtos musicais de vanguarda, inovadores e ousados para sua época, para ouvidos mais exigentes e seletivos. 
A chamada música eletrônica é todo tipo de música em que há predominância de instrumentos musicais eletrônicos nas fases de criação, desenvolvimento ou ensaios e gravação. De modo geral, e como todo tipo de arte, ela é fruto direto da capacidade criativa do ser humano, com elementos emocionais e sentimentais presentes, mas a principal diferença em relação a outros estilos musicais é o uso intensivo ou predominante de instrumentos musicais eletrônicos, principalmente sintetizadores ou teclados, baixos e baterias eletrônicas, usados intensivamente nas fases de criação, desenvolvimento ou ensaios e gravação.

Atualmente, ela é um dos principais produtos da indústria fonográfica mundial e exerce influência sobre outros ritmos ou gêneros musicais, como o soul, o jazz, o easy listening, o R&B, o gospel, o blues, o lounge, o new age, o reggae, o new wave, o rock e, em menor medida, até sobre a música sertaneja brasileira e a country music americana.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

Logo acima, o músico grego de música eletrônica de raiz Vangelis. Ele ficou mundialmente famoso por sua valiosa contribuição para a trilha sonora do clássico longa metragem de ficção científica Blade Runner - O Caçador de Androides, lançado na década de 1980, por sua vez dirigido pelo britânico Ridley Scott. Logo abaixo, outra veterana da música eletrônica de raiz, a italiana Suzanne Ciani.
A música eletrônica é toda música criada, desenvolvida (ensaiada) e gravada com o uso de equipamentos eletrônicos e instrumentos musicais eletrônicos, principalmente os sintetizadores musicais ou teclados, o baixo e a bateria eletrônica, acompanhados de computadores com softwares de composição, com a participação óbvia dos gravadores analógicos ou digitais. Os softwares são desenvolvidos de forma a facilitar a criação e o desenvolvimento, já que a criação em si é o resultado direto da inteligência musical humana, portanto considerada o ponto de partida para a realização de uma obra de arte.

Na verdade, uma grande parte dos ritmos musicais mais ouvidos pela população e até pela elite hoje em dia tem influência direta, maior ou menor, da música eletrônica ou dos conceitos da música eletrônica. O sintetizador, por exemplo, até mesmo o singelo sintetizador usado em igrejas, é um instrumento eletrônico capaz de gerar notas musicais equivalentes às notas musicais geradas por instrumentos de percussão, bateria acústica, por exemplo, por instrumentos de corda, baixo, por exemplo, e por instrumentos de sopro, trompete, por exemplo.

A chamada música eletrônica de raiz é derivada da chamada música concreta e teve início como uma vertente da música erudita, inicialmente como fruto do trabalho de compositores visionários e ousados, e, posteriormente, décadas depois, como um elemento da música popular. Durante a sua evolução e amadurecimento, a música eletrônica foi bastante relacionada ao rock e à disco music, mas, na verdade, sempre foi um gênero musical próprio, passando, então, a ser subdividida em subestilos, sub-ritmos ou subgêneros musicais, a maioria considerada urbana, noturna, dançante e sofisticada, tais como o techno ou electro; o house, conhecido também como synth-pop ou upbeat; a dance music; a trance music; e o drum and bass, este conhecido também como progressive house e jungle; dentre vários outros.

Durante a longa trajetória de décadas da música eletrônica, vários artistas ou bandas ganharam status de ícones cult, com hits elaborados para um público mais exigente, como, por exemplo, os veteranos Jean Michel Jarre, Kraftwerk, Suzanne Ciani e Vangelis, dentre vários outros. Mas os novos representantes da música eletrônica também dão um show, como diz o ditado, e não decepcionam, dentre eles Kaskade, Alex H, Bee Hunter, Étienne de Crécy, Rod Veldt, Etherwood, Sub Focus & Wilkinson, Lone, Bonobo e até um brasileiro entre eles, o DJ Alok.

Originalmente relutada por ter sua tecnologia evoluída muito mais rapidamente que sua estética, só passou a ter princípios e tradição após a Segunda Guerra Mundial, com o trabalho de franceses e alemães na música concreta e na Elektronische Musik. Na verdade, alguns sub-ritmos, subestilos ou subgêneros da música eletrônica também tiveram dificuldades para ganhar respeito da crítica musical, como a dance music e a house music, por exemplo, que só passou a ser considerada obra de arte a partir das décadas de 1980 e 1990, com a contribuição de bandas como Erasure, Pet Shop Boys, Ace Of Base, New Order, Jamiquai e Deee-Lite, por exemplo, dentre vários outros.

CONCEITO

Logo acima e logo abaixo, dois exemplos típicos e comuns de sintetizadores musicais. Na verdade, hoje em dia qualquer pessoa, de qualquer classe social, que tenha criatividade, inteligência musical, talento, muita determinação e força de vontade em aprender a tocar um sintetizador pode criar música eletrônica de boa qualidade. A partir daí, o sucesso é apenas uma questão de tempo e de sorte.
É importante salientar que, por definição, música eletrônica é toda música criada, desenvolvida (ensaiada) e gravada através do uso de equipamentos e instrumentos musicais eletrônicos, principalmente o sintetizador ou teclado, o baixo e a bateria eletrônica. Portanto, se todo rigor for empregado para definir música eletrônica, até mesmo a música sertaneja brasileira e a country music americana possuem alguns elementos sutis da música eletrônica, como, por exemplo, o uso de sintetizadores, baixos e guitarras. Por outro lado, quando se fala de música eletrônica, quase sempre vêm à mente os ritmos musicais em que a predominância de instrumentos musicais eletrônicos é mais acentuada e mais fácil de perceber, como, por exemplo, a dance music e a house music.

A música eletrônica passou por uma fase de popularização nas décadas de 1970 e 1980, com a ascensão do rock e da disco music, com grandes representantes como, por exemplo, Queen; U2; Supertramp; Dire Straits; Pink Floyd; ABBA; Bee Gees; Donna Summer; KC & Sunshine Band; Diana Ross; Kool & The Gang e Earth, Wind and Fire; dentre vários outros. Durante as décadas de 1980 e 1990, artistas populares, como Madonna e Michael Jackson, por exemplo, usaram e abusaram da música eletrônica para se manter no topo das paradas de sucesso, contratando grandes e experientes produtores musicais, algumas vezes errando nas escolhas, beirando o mau gosto, mas quase sempre acertando, felizmente.

A música eletrônica é dinâmica e supercriativa, até um pouco amorfa, ou seja, sem uma forma bem definida e previsível. Ela não tem um formato único e padronizado, mas, de modo geral, os ouvidos mais atentos e refinados conseguem perceber características em comum entre seus vários sub-ritmos, subestilos e subgêneros, com uma estrutura mais ou menos semelhante, embora não idêntica. Numa linguagem mais simples e fácil de entender, ela é prima do rock, quase tão rebelde quanto ele, também não se submete a padrões rígidos, conservadores, pré-definidos de estilo:
  • Intro (introdução): A introdução é, como seu nome já diz, o começo da música, a cada compasso ela vai ganhando elementos que se incorporam ao restante da música. Sua duração é de 15 segundos até 1 minuto.
  • Break ou brake (parada breve): Ponto calmo, de desenvolvimento da track, onde a escolha dos elementos da track (melodia e vocal) é da escolha do autor.
  • Build up (construção): O ponto de tensão, de clímax antes do drop;
  • Drop: O ponto mais agressivo da música, onde a maioria dos elementos se concentra para preencher o drop.
  • Out ou final: Ponto final da música, onde ela vai perdendo elementos;

HISTÓRIA

Não há consenso entre historiadores sobre a origem exata da música eletrônica, com uma parte deles sugerindo ou sinalizando que a música eletrônica (ou música elétrica, se você preferir, já que estamos falando de antigos instrumentos eletroacústicos) pode ter surgido antes mesmo da invenção da bateria, da corrente alternada, do fonógrafo (primeiro equipamento patenteado capaz de gravar sons) e dos primeiros componentes eletrônicos miniaturizados, como, por exemplo, o transistor, o diodo, o capacitor e o resistor.

Por exemplo, ela teria surgido pelas mãos de um dos pioneiros pesquisadores sobre a corrente elétrica contínua, o teólogo tcheco Václav Prokop Divis, o chamado Denis D’or, conhecido também como Golden Dionysis ou Orchestrion, em 1730, uma espécie de teclado antigo, que, na verdade, não era eletrônico, mas sim eletroacústico, que imitava sons de instrumentos de cordas e de sopro, com o uso de eletroímãs.

Na sequência, muito tempo depois, em 1897, surgiu o que muitos historiadores afirmam ter sido o primeiro instrumento eletroacústico de que se tem conhecimento, com a sua existência devidamente documentada, o dinamofone ou telarmônio, inventado pelo engenheiro eletricista americano Thaddeus Cahill, uma espécie de teclado eletromecânico, baseado em um conjunto composto por um dínamo elétrico combinado com indutores eletromagnéticos, cujos conceitos foram, posteriormente, usados, a partir de 1935, para a criação do órgão Hammond, muito utilizado, a partir de então, para apresentações de jazz, de blues, de música gospel, de R&B e de reggae.


ELETRÔNICA OU ELÉTRICA?

Após a Primeira Guerra Mundial os primeiros avanços foram no sentido de tornar os equipamentos musicais mais econômicos e compactos. Uma dessas invenções foi o teremim, desprovido de teclado, munido de dois detectores de movimento que controlavam o volume e a altura do som a partir do movimento livre das mãos do executante. Outro exemplo de instrumento é o Ondas Martenot, inventado em 1928 por Maurice Martenot e usado em obras como Turangalîla e Trois Petites Liturgies, de Olivier Messiaen.

Mais tarde surgiram instrumentos polifônicos como o Givelet e o órgão Hammond, cujos potenciais foram imediatamente reconhecidos e explorados. O Givelet tinha a capacidade de ser programado, o que foi mais tarde largamente ultrapassado pelos sintetizadores e pelos computadores que viriam a surgir cerca de 25 anos mais tarde. Produzido por Laurens Hammond, a partir da fundação de sua empresa, em 1929, o órgão Hammond, inventado em 1935, era baseado nos princípios do telarmônio, junto com outras tecnologias, como as primeiras unidades de reverberação.

O movimento futurista, iniciado na Itália pelo poeta Filippo Marinetti, rapidamente expandiu-se pela Europa, na defesa da liberdade da expressão artística, que se revelou na música pela utilização de técnicas de produção sonora não convencionais até então, dando-se valor ao que era considerado, na época, “barulho”. Luigi Russolo propôs, na década de 1910, em The Art of Noises, a composição musical a partir de fontes sonoras do meio ambiente, na busca da variedade infinita dos ruídos. O efeito prático desta proposta foi a construção de instrumentos produtores de ruído, como o Intonarumori. Seria o embrião da música concreta? O primeiro concerto da série The Art of Noises ocorreu em 21 de abril de 1914, e em junho concertos similares ocorreram em Paris.

O compositor francês Edgard Varèse, foi pioneiro na exploração de novos conceitos de expressão musical. A sua técnica de instrumentação revelava uma ruptura com a escola vigente no Conservatório de Paris, quebra essa absolutamente necessária para a aceitação de fontes eletrônicas na composição musical. O conceito de análise e de “regenese” dos sons foi explorado por Varèse na sua obra instrumental, obrigando-o a utilizar os instrumentos como componentes de massas sonoras de diferentes timbres, densidades e volumes. As aspirações de Varèse no campo da música eletrônica foram bloqueadas por razões financeiras e pelo deficiente apoio que recebeu. As obras teóricas de Thérémin, inventor do instrumento com o mesmo nome, debruçavam-se sobre os princípios analíticos na música, de forma sistemática e científica, antecipando a metodologia da composição de música eletrônica.

Na França, um dos instrumentos eletrônicos mais famosos foram as ondas Martenot, inventadas em 1928 por Maurice Martenot, e desenvolvidas para reproduzir os sons microtonais encontrados na música hindu. Após demonstração por Maurice em Paris, compositores começaram a utilizar o instrumento. Já o trautônio também foi inventado em 1928, e, em 1940, o alemão Richard Strauss, um famoso maestro da época, o utilizou.

Essa nova classe de instrumentos microtonais por natureza foi adotada lentamente pelos compositores, mas, a partir do início da década de 1930, houve um aumento substancial de novos trabalhos incorporando esses e outros instrumentos eletroacústicos.

Darius Milhaud e Percy Grainger utilizaram a capacidade de gravação e reprodução em vinil para deformar sons gravados através da variação da velocidade de leitura. Hindemith interessou-se especialmente pela capacidade de reproduzir os sons dos instrumentos acústicos eletronicamente, ideia que Varèse conseguiu contornar. Na década de 1930, os principais avanços foram nos sistemas de gravação. Depois de tentado um sistema de gravação óptica, revelou-se mais vantajosa a gravação em suporte magnético. O maior avanço ocorreu na Alemanha, em 1935, com a invenção do magnetofone, que utilizava fitas plásticas impregnadas de partículas de ferro. A fita magnética não permitia, no entanto, a visualização por meio de gráficos do som, desvantagem que teve pouca importância. Até 1945, as principais linhas de desenvolvimento foram na concepção do som musical, no interesse pelos princípios da acústica, que, por sua vez, permitiram o avanço no campo da música eletrônica.


EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA

Ao longo das décadas, a música eletrônica sempre foi uma das primeiras a se beneficiar dos inúmeros avanços tecnológicos da indústria fonográfica. Mas até o fim da Segunda Guerra Mundial a música eletrônica era um nicho de mercado muito específico, limitada a segmentos mais cultos das sociedades ocidentais e orientais, ou seja, a população em geral simplesmente não tinha interesse pela música eletrônica, com exceção das músicas tocadas em igrejas por meio de órgãos eletroacústicos, que, na verdade, nem se considerava ser um tipo de música eletrônica, mas simplesmente música sacra.

A Segunda Guerra Mundial forçou o desenvolvimento tecnológico a vários níveis que, cessado o fogo, se revelou determinante no progresso da música eletrônica. O clima de reconstrução econômica proporcionou incentivos de várias instituições, sobretudo das emissoras de rádio, que dispunham de estúdios bem equipados. Em 1946, o americano ENIAC, um dos primeiros computadores eletrônicos digitais, foi inventado. A partir de então, na França e na Alemanha, estabeleceram-se duas diferentes correntes ou vertentes da música eletroacústica, a música concreta francesa e a Elektronische Musik alemã, sendo esta última a que deu origem ao termo em inglês electronic music ou, traduzindo, música eletrônica.

Além disso, a partir do fim da década de 1950 o termo música eletroacústica começou a ser adotado. Ele designa a música de instrumentos acústicos gravados, cujas gravações podem ser manipuladas, combinadas, montadas e superpostas.

Do lado francês, houve a iniciativa de Pierre Schaeffer, engenheiro eletrotécnico, criador do conceito de música concreta, assim chamada por partir da gravação de sons do ambiente, dos ruídos e dos instrumentos musicais, e sua transformação em estúdio, recusando a utilização de instrumentos eletrônicos. Eles foram responsáveis pelas primeiras mixagens. Na mesma época, Paul Boisselet realizava experimentos com osciladores eletrônicos.

As primeiras composições de Pierre Schaeffer, que incluíam a manipulação sonora por meio da variação da velocidade ou do sentido de leitura das gravações, tinham um efeito musical fraco, incoerente e até meio estranho e sem sentido melódico, pela sua natureza fragmentária. Era o que hoje em dia chamaríamos de música experimental, portanto sem valor comercial.

Em 1948 foi apresentada a peça Etude Aux Chemins e, no ano seguinte, Variations Sur Une Flûte Mexicaine, outra obra da música concreta. Mais tarde, com a melhoria da tecnologia e em associação com o compositor Pierre Henry e o engenheiro Jacques Poullin, fundando, em 1958, o Groupe de Recherches Musicales, surgiram as primeiras composições de resultado considerado satisfatório na época: Symphonie Pour un Homme Seul, primeira sinfonia de música concreta, e a ópera Orpheé 51, esta última utilizando aparelhos como o Morphophone e os Phonogènes, que operavam sobre gravações em fita magnética.

À medida que técnicas de processamento eletrônico se tornavam mais aceitas, os princípios da música concreta perdiam influência. Essa conjuntura forçou Pierre Schaeffer à mudança para um perspectiva mais universal, o que o levou a uma aproximação com o conceito de Elektronische Musik ou música eletrônica. No início dos anos 1960, Pierre Henry fundava o seu próprio estúdio, Xenakis começava já a utilizar os computadores, dois exemplos entre as muitas outras linhas de inovação, chegando assim ao fim o monopólio de Pierre Schaeffer.

O estúdio foi amplamente divulgado na comunidade musical. Stockhausen foi um dos compositores que estabeleceu uma longa ligação com o estúdio. Lá, realizou muitas das suas obras, dentre elas os Studier I e Studier II. Utilizou nesses estúdios ferramentas como o cálculo de frequências com base em relações harmônicas, o serialismo de intensidades e durações, o eco e a reverberação, a inversão sonora ou a note mixtur.

De forma resumida, a técnica da note mixtur baseia-se na sobreposição de sons sinosoidais que não apresentam relações harmônicas com um som fundamental. Na produção do efeito de reverberação, utilizavam-se, inicialmente, câmaras de reverberação onde o som era emitido e regravado. Caíram em desuso pelo espaço que ocupavam e foram substituídas por métodos mais simples. Para a modulação dos sons eram empregados filtros afinados para certos centros de frequências, que permitiam favorecer ou empobrecer o som num certo campo de harmônicos. Kontakte (1958-1960) é uma das obras mais importantes de Stockhausen, que combina sons eletrônicos com a execução, em tempo real, de partes para piano e percussão.

A tecnologia erase-record-replay, desenvolvida inicialmente para a produção de eco, foi explorada de outras formas, na criação de loops, por exemplo. Outra das características da música eletrônica é a utilização da espacialização, através da colocação de alto-falantes de forma conveniente no espaço de execução.


ELETRÔNICA DE RAIZ

A chamada música eletrônica de raiz, conhecida também como música eletrônica contemporânea, surgiu após a Segunda Guerra Mundial, diretamente derivada da música concreta francesa e da Elektronische Musik alemã. No início, ela não tinha, necessariamente, uma relação direta com a música computacional, pois podia ser executada inteiramente por músicos operando diretamente instrumentos musicais eletroacústicos e/ou eletrônicos.

Nessa época, surgiu também o conceito de música computacional, gerada ou composta como o auxílio de um computador, um ramo de estudo que também examina tanto a teoria quanto a aplicação de tecnologias na área de música. Com o passar dos anos, ambos os tipos de música, a música eletrônica de raiz e a música computacional, se fundiram e, hoje em dia, é praticamente impossível falar em música eletrônica e não falar em música computacional.

A primeira composição musical de computador foi gerada na Austrália por Geoff Hill, no computador CSIRAC. Posteriormente, Lejaren Hiller usou um computador, na década de 1950, para produzir trabalhos que eram até então executados diretamente por músicos convencionais. Ele é o compositor da Suite Illiac (1956), a primeira música inteiramente automática e programada. O trabalho de Max Mathews nos Laboratórios Bell resultaram no influente programa de computador MUSIC I. Pierre Barbaud, que já havia proposto em 1950 a introdução da matemática na composição musical, fundou o grupo de música algorítmica em 1958 junto com Roger Blanchard.

A partir da década de 1950, diversos grupos de pesquisa desse novo ramo de música, antes fomentado por franceses e alemães, estavam sendo abertos pelo mundo. O laboratório de música experimental da Universidade Columbia, nos Estados Unidos (1953), o estúdio experimental de Herman Scherchen, na Suíça (1954), um estúdio de música experimental no Japão (1954), o Studio di Fonologia da estatal italiana de rádio e TV RAI (1955) e um estúdio de música experimental na Polônia (1957). A intensificação das pesquisas resultou em novos instrumentos, como um sintetizador controlado por uma fita de papel perfurado, começando a era dos sintetizadores.


A TECNOLOGIA
O sintetizador musical, conhecido popularmente como teclado, é um instrumento eletrônico que transforma impulsos elétricos em sons, diretamente relacionados aos movimentos dos dedos do músico sobre o seu teclado, sobre as chaves e sobre os controles. A partir de então os sons são gerados de forma sintética, ou seja, de forma artificial ou eletrônica, ao contrário dos instrumentos de percussão, de corda e de sopro, cuja maioria gera sons naturais, digamos.

É impossível falar de música eletrônica e não falar do sintetizador, conhecido também como teclado. Devido à complexidade em compor com um sintetizador ou computador, a maioria dos compositores de música eletrônica continuava a explorar esse conceito de música usando a música concreta, ainda na década de 1960. Mas como tal estilo não era gracioso e era pouco melódico, alguns compositores iniciaram pesquisas para melhorar a tecnologia nesse sentido, levando a três times independentes buscando o desenvolvimento do primeiro sintetizador pessoal.

Pelo que se sabe, um dos primeiros sintetizadores da era moderna era um instrumento de pesquisa, criado e montado em 1954 pelo engenheiro eletrônico americano Harry Olson e apresentado ao público pela primeira vez em 1955. Eles começaram a ser fabricados em série e comercializados em 1964, utilizando variações de voltagens para manipular ondas sonoras geradas eletronicamente. A partir da década de 1970 foi iniciada a fabricação em série de sintetizadores digitais, que passaram a usar microchips ou processadores eletrônicos.

Entre os primeiros sintetizadores estava também o Buchla, aparecido em 1963, produto do trabalho do compositor Morton Subotnick. Outro sintetizador foi o criado por Robert Moog, sendo o primeiro a usar um teclado ao estilo de piano. Em 1964 Moog convidou o compositor Herb Deutsch para visitar seu estúdio em Trumansburg. Moog já havia encontrado Deutsch um ano antes, ouvido sua música, e decidido seguir a sugestão do compositor para a construção de módulos para música eletrônica. Na época de visita de Deutsch, Moog já havia criado protótipos de osciladores controlados, equipamento que Deutsch usou por um tempo, e, posteriormente, Moog criou um filtro controlado por voltagem. Moog então foi convidado para a Convenção AES em Nova York no qual apresentou o artigo Eletronic Music Modules e vendeu seu primeiro sintetizador ao coreógrafo Alwin Nikolais.

Em 1964, Stockhausen compôs Mikrophonie I para tam-tam, microfones de mão, filtros e potenciômetros. No ano seguinte foi composta Mikrophonie II para coro órgão Hammond e moduladores.

Ainda nos anos 1960 foi desenvolvido o sequenciador, um aparato acessório aos sintetizadores que mudaria a forma de se fazer música pelos anos seguintes. Com ele o músico passou a ser capaz de programar ritmos e frases pré-definidas para serem tocados e gravados sem necessidade de execução manual.

Apesar da música eletrônica ter começado nas ramificações da composição clássica, após alguns anos ela foi adotada pela cultura popular. Um dos primeiro exemplos é o tema para televisão do seriado Doctor Who, composto por Delia Derbyshire, em 1963.

No final da década de 1960 Wendy Carlos popularizou a música de sintetizador com os dois notáveis álbuns, Switched-On Bach e The Well-Tempered Synthesizer, que reproduziram peças de J. S. Bach usando o Moog. O equipamento gerava somente um nota por vez, então para gerar a composição Carlos teve que sobrepor as gravações em um amplo trabalho de estúdio.

Os primeiros sintetizadores também eram bastante instáveis e perdiam a afinação com facilidade. Apesar disso, muitos músicos, como Keith Emerson, do Emerson Lake and Palmer, começaram a usar os equipamentos, inclusive em turnê. O teremim, que é extremamente difícil de ser executado, foi também usado na música popular. O teremim elétrico foi usado em Good Vibrations do The Beach Boys. Já os Beatles usaram o mellotron em Strawberry Fields Forever e o pedal de volume em Yes It Is.

A partir de então, as bandas de música pop e de rock não pararam mais de usar as sonoridades da música eletrônica em composições próprias. 

Com a evolução da tecnologia e o ganho de escala na produção os sintetizadores tornaram-se mais baratos e foram sendo adotados por várias bandas de rock, tais como The Silver Apples e Pink Floyd, usando os equipamentos como substitutos do órgão convencional. Na década de 1970 os sintetizadores passaram a ser vendidos em grande quantidade nas lojas de instrumentos musicais, inclusive com o lançamento do revolucionário Minimoog. Empresas concorrentes da R.A. Moog Incorporated, de Robert Moog, logo surgiram, como a ARP, a EMS e a Korg, no Japão, abrindo as portas para a produção de música eletrônica por qualquer músico.


TENDÊNCIAS E INFLUÊNCIAS

Logo acima, a banda inglesa de house music New Order, com auge nas décadas de 1980 e 1990, até hoje uma das mais respeitadas bandas de música eletrônica do mundo. Logo abaixo, a banda sueca de disco music ABBA, com auge nas décadas de 1970 e 1980, mas com hits que são executados até hoje em rádios de várias partes do mundo. A disco music foi fortemente influenciada pela música eletrônica.

Na década de 1970, a música eletrônica foi revolucionada pela banda alemã Kraftwerk e também pelo instrumentista francês Jean Michel Jarre, que tornaram-na popularizada mundialmente, sendo que a banda alemã relatava em suas composições a alienação então atual do mundo em relação à tecnologia. Com o passar dos anos, outras bandas de música eletrônica e de rock também incorporaram o som eletrônico à música popular, incluindo Pink Floyd, Tangerine Dream, Can, Neu! e Popol Vuh.

Tal movimento acabou sendo pejorativamente chamado pela imprensa inglesa, da época, como krautrock (uma referência ao apelido sauerkraut dos alemães, que significa chucrute, um prato tradicional daquele país), mas acabou sendo aceito pelo tempo devido à grande influência de tais bandas. Na época, surgiram também outros pioneiros da música eletrônica, como, por exemplo, o alemão Klaus Schulze e o grego Vangelis, sendo este considerado um ícone da música eletrônica de raiz.

Alguns pianistas de jazz, como Herbie Hancock, Chick Corea, Joe Zawinul (Weather Report) e Jan Hammer (Mahavishnu Orchestra), começaram a usar os sintetizadores em gravações de jazz fusion, entre 1972 e 1974. As gravações I Sing the Body Electric, de Weather Report, e Crossings, de Herbie Hancock, por exemplo, usaram sintetizadores para efeitos de som em contraste de somente um substituto ao piano.

Nas décadas de 1970 e 1980, assim que os sons eletrônicos tornaram-se mais populares nas composições em geral, filmes e séries de ficção, como Blade Runner – O Caçador de Androides, Águia de Fogo / AirWolf, Tron – Uma Odisseia Eletrônica, MacGyver / Profissão Perigo, Alien – O Oitavo Passageiro, Supermáquina / Knight Rider e Top Gun - Ases Indomáveis, por exemplo, passaram a ter trilhas sonoras compostas por faixas de música eletrônica. Curiosamente, na direção contrária, outros diretores de filmes de ficção, como George Lucas e Steven Spielberg, por exemplo, não fizeram a opção pela música eletrônica em seus filmes, como, por exemplo, Star Wars, Indiana Jones, ET – O Extraterrestre, Contatos Imediatos e Tubarão, optando pela música clássica do icônico do maestro americano John Williams.

Nas décadas de 1970 e 1980 houve grande interesse na inovação em instrumentos de música eletrônica, incluindo a substituição dos sintetizadores analógicos por versões digitais, além dos primeiros samplers. Na época os samplers eram, tal qual os primeiros sintetizadores, espaçosos e caros, mas em meados da década de 1980 foram desenvolvidos para tornarem-se mais disponíveis aos músicos.

Similarmente aos samplers, a música eletrônica foi amplamente difundida a partir da década de 1980, através da popularização dos computadores pessoais. A partir de então era possível emular as funcionalidades de instrumentos musicais ou de sintetizadores através da criação, manipulação e apresentação virtual de som.

Percebeu-se que diferentes equipamentos não conseguiam comunicar-se entre si devido à diferenças em suas tecnologias. Para solucionar o problema foi criado o MIDI, um protocolo de comunicação destinado à comunicação, controle e sincronização de informações de áudio entre dispositivos, como sintetizadores ou teclados e processadores de som.

Concebido em 1980, proposto para padronização em 1981 e introduzido, de fato, em agosto de 1983 (versão 1.0), o MIDI tornou-se um dos padrões mais notáveis da indústria da informática e atualmente é aceito na maioria dos equipamentos de áudio e instrumentos musicais eletrônicos. O advento dessa tecnologia permitiu que um simples comando ativasse qualquer dispositivo do estúdio remotamente e em sincronia, respondendo de acordo com as condições predeterminadas pelo compositor.

Os novos tipos de sons eletrônicos contribuíram para a formação da música industrial, começada por grupos como Throbbing Gristle em 1975, Wavestar e Cabaret Voltaire. Artistas como Nine Inch Nails, em 1989, KMFDM e Severed Heads usaram as inovações da música concreta e aplicaram ao rock progressivo e à dance music.

Durante esse tempo, artistas de dub, como Tackhead, por exemplo, gravaram composições com modelos da música industrial que pavimentaram o interesse a bandas como Meat Beat Manifesto e produtores de downtempo e trip hop como Kruder & Dorfmeister. Na época, houve também o surgimento do synth-pop, a música pop tocada com o predomínio de sintetizadores, com bandas de reconhecimento mundial e forte influência dentro da música pop, como, por exemplo, New Order, Depeche Mode, Alphaville, Information Society, A-Ha, Pet Shop Boys e Erasure.

Ainda durante o começo da década de 1980 desenvolveu-se em Detroit o electro, uma forma de hip hop misturada com o timbre dos sintetizadores analógicos, tomando como referência o Kraftwerk, por exemplo, baseado amplamente nas caixas de ritmos, como o Roland TR-808. Ainda que seja mais associado com o hip hop e usado no breakdance da época, o electro é considerado uma forma de música eletrônica. O estilo foi resgatado nos anos 2000 com o eletroclash mas decaiu pela grande influência de novos estilos de música eletrônica tais como o house.


OS SUBGÊNEROS

A música eletrônica é o mais diversificado gênero musical que existe, nenhum outro gênero musical da história deu origem a tantas variações, subgêneros, sub-ritmos ou subestilos que a música eletrônica. Segundo algumas publicações especializadas em música, são mais de 80 subgêneros de música eletrônica catalogados até o momento. Isso ocorre porque a música eletrônica é o gênero musical que melhor se adaptou aos avanços tecnológicos do Século XX e das décadas mais recentes, enquanto os demais gêneros levaram mais tempo para se adaptar ou simplesmente não se adaptaram.

Por uma razão de praticidade, para não confundir o leitor leigo do blog, o quadro abaixo relaciona apenas um resumo dos 10 principais subgêneros atuais da música eletrônica, os mais essenciais e mais populares, digamos, aqueles que provavelmente você ouvirá se sintonizar agora uma rádio FM de música urbana, acessar o YouTube, ligar a TV para assistir um filme ou série de ficção ou abrir o seu aplicativo de música:


SUB-GÊNEROS DA MÚSICA ELETRÔNICA

SUB-GÊNERO

ORIGEM

CARACTERÍSTICAS

House, synth-pop ou upbeat

EUA e Europa, década de 1980

Entre 80 e 120 batidas por minuto

Techno ou electro

EUA, déc. 1980

Entre 100 e 200 batidas por minuto

Downtempo, ambient ou chillout

Europa, déc. 1970, 1980 e 1990

Composição fluida, poucas ou nenhuma batida

Trance

Europa, déc. 1990

Som inebriante, mais de 80 b.p.m.

Progressive house, drum and bass, bass, deep house ou jungle

Europa, déc 1990

Música muito ousada e sofisticada. Predominância de sons graves, de 80 até 180 batidas por minuto

Dance, euro-dance ou DME

EUA e Europa, década de 1980

Entre 80 e 150 batidas por minuto

Hip hop ou trip hop

EUA e Europa, década de 1990


Rap

EUA, déc. 1980


Break, brake ou breakbeat

EUA, déc. 1980


Disco music

EUA, déc. 1970 

 


O subgênero dubstep ou garage é comum nos Estados Unidos e na Europa, ele está caracterizado pela pouca ou nenhuma melodia e uma concentração de 80 até 150 batidas por minuto. Ele possui pouco apelo comercial aqui no Brasil, por isso não está relacionado no quadro acima. Aqui no Brasil, assim como o hardcore e o bass, ele está limitado à execução em casas noturnas de música eletrônica, festas de aniversário e raves.

Não há consenso ainda, entre as publicações especializadas em música, sobre se o hip hop é, assim como o rap, a disco e o break, um gênero próprio de música ou um subgênero da música eletrônica. Como se trata de um tipo de música popular e com forte predominância de instrumentos eletrônicos musicais ele está relacionado no quadro acima.

É impossível falar de música eletrônica e não falar de música pop, grande parte da música eletrônica ouvida hoje nas rádios FM brasileiras de música urbana é, na verdade, música pop com elementos de música eletrônica.


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REFERÊNCIAS E SUGESTÃO DE LEITURA

  • Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Música_eletrônica
  • Nova Enciclopédia Ilustrada Folha - Larousse / Cambridge / Oxford / Webster
  • Wikimedia: Imagens

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